A Intel anunciou Lip-Bu Tan como seu novo CEO, sucedendo Pat Gelsinger, cuja saída repentina foi atribuída a divergências com o conselho da empresa.
Tan, que atuou como CEO da Cadence Design Systems de 2009 a 2021 e fez parte do conselho da Intel entre 2022 e 2024, assume o cargo em um momento crítico para a companhia. A gigante dos semicondutores tem enfrentado dificuldades para recuperar sua competitividade no mercado de chips e expandir sua participação na indústria de inteligência artificial.
A nomeação de Tan não é uma escolha aleatória. Durante seu tempo na Cadence, ele conseguiu mais do que dobrar a receita da empresa, além de transformá-la em um dos principais players do setor de design de chips.
Seu histórico como investidor também reforça sua credibilidade, tendo apoiado startups estratégicas como Annapurna Labs, posteriormente adquirida pela Amazon, e a Nuvia, que foi comprada pela Qualcomm.
Agora, a grande questão é: como ele pretende aplicar essa experiência para redefinir o futuro da Intel.
O que levou à saída de Pat Gelsinger?
Embora a Intel tenha oficialmente divulgado que Gelsinger se aposentou, relatos indicam que sua saída foi resultado de pressões do conselho, que perdeu a confiança em sua estratégia de recuperação da empresa.
Gelsinger, que havia retornado à Intel em 2021 após três décadas na companhia, tentou reverter a crise enfrentada pela empresa apostando na expansão de sua capacidade de fabricação e no desenvolvimento de tecnologias próprias.
No entanto, essa abordagem não foi suficiente para reposicionar a Intel no mercado. Sob sua gestão, a empresa perdeu terreno para concorrentes como AMD e NVIDIA, especialmente no setor de chips para inteligência artificial, um segmento em ascensão.
Além disso, a burocracia interna e uma cultura corporativa avessa a riscos foram apontadas como entraves para a transformação da empresa.
A saída de Gelsinger foi precedida pela renúncia de Tan ao conselho da Intel em agosto de 2024, o que já indicava desentendimentos estratégicos. Fontes revelaram que Tan discordava do modelo de governança da empresa, do número crescente de funcionários e da lentidão na tomada de decisões.
Agora, com sua ascensão ao cargo de CEO, fica evidente que o conselho busca uma abordagem mais ágil e orientada para resultados.
Os desafios de Lip-Bu Tan na Intel
Ao assumir o comando da Intel em 18 de março, Tan enfrentará desafios consideráveis. Um dos maiores dilemas da empresa é decidir o futuro de sua divisão de fabricação de chips.
A Intel tem investido pesado na expansão de suas fábricas para se tornar uma fornecedora de semicondutores para outras empresas, semelhante ao modelo adotado pela TSMC. Porém, há analistas que defendem que a Intel deveria separar seu braço de manufatura do desenvolvimento de processadores, uma estratégia que a AMD implementou com sucesso em 2009.
Outro problema a ser resolvido será posicionar a Intel como uma concorrente de peso no setor de inteligência artificial. A empresa possui produtos promissores, como o chip Gaudi 3, mas ainda enfrenta dificuldades para convencer gigantes da tecnologia a adotarem sua arquitetura.
A pressão para acelerar o desenvolvimento e ampliar a aceitação de seus produtos será um dos focos da nova gestão.
Espera-se que Tan implemente cortes de gastos significativos, o que pode incluir demissões e reestruturações internas. Especialistas acreditam que a nova gestão buscará eliminar processos burocráticos e adotar uma cultura mais voltada para inovação e agilidade.
Um CEO com conexões estratégicas
Lip-Bu Tan traz para a Intel um extenso histórico de relacionamentos no setor de tecnologia. Ele tem boas conexões com nomes importantes da indústria, como Lisa Su, CEO da AMD, e Jensen Huang, CEO da NVIDIA.
Seu tempo à frente da Cadence também o colocou em contato com diversas empresas de semicondutores e tecnologia, o que pode ser um trunfo para fortalecer a posição da Intel no mercado.
Tan já deixou claro que pretende transformar a Intel em uma empresa “focada em engenharia”, com ênfase na inovação e no desenvolvimento de produtos que possam recolocar a empresa na vanguarda da tecnologia.
Em sua primeira mensagem aos funcionários, ele destacou a importância de assumir “riscos calculados” para impulsionar a companhia.
O futuro da Intel sob nova liderança
A nomeação de Lip-Bu Tan marca um novo capítulo para a Intel, que tenta recuperar sua relevância no setor de semicondutores após anos de problemas sérios.
Com um histórico bem-sucedido na sua jornada profissional e no setor de investimentos em tecnologia, Tan chega com a missão de acelerar a reestruturação da empresa e posicioná-la novamente como uma referência global.
Seus primeiros movimentos serão cruciais para definir o futuro da Intel. A forma como ele abordará os cortes de custos, a expansão da manufatura e o avanço no setor de inteligência artificial determinará se a empresa conseguirá reverter sua trajetória recente e voltar a competir de igual para igual com seus principais rivais.