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Kanye West comprou o Parler: e eu com isso?

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A gente fica falando sobre a ameaça ao mundo civilizado que é o Elon Musk ser dono do Twitter, mas ninguém falou nada do fato do Kanye West ser dono do Parler.

Tudo bem, o Parler é algo minúsculo perto do Twitter, e ninguém se importa muito com o Kanye West. Mas entendo que vale a pena fazer um registro disso, além de colocar essa compra em contexto para tentar imaginar o que pode acontecer no futuro com esses caras que agora contam com redes sociais nas mãos.

Acredite: isso não é uma mera coincidência, e é preciso olhar com lupa o que esses movimentos representam em nossas vidas.

 

A rede social onde “a liberdade de expressão está em primeiro lugar”

O Parler é uma rede social alternativa, que se apresenta como um espaço onde “a liberdade de expressão está em primeiro lugar”. Ou seja, o cara com nome de bicicleta velha iria se sentir em casa nessa plataforma.

De fato, as pessoas com ideologia de extrema direita encontraram no Parler o lugar ideal para disseminar todo e qualquer tipo de discurso ou filosofia que acreditam ser a verdade absoluta. Incluindo é claro os discursos de ódio, preconceito e desinformação.

De acordo com a Parler Technologies, a aquisição do Parler por Ye “garante um papel futuro na criação de um ecossistema incansável onde todas as vozes são bem-vindas”. O acordo em definitivo ainda não foi fechado, e valores pagos pela plataforma não foram revelados.

Essa é uma rede social que sempre esteve envolvida em polêmicas desde o seu nascimento em 2019, se tornando o refúgio de usuários que foram bloqueados nas principais plataformas sociais por violarem as políticas de conteúdo.

O Parler já foi retirado temporariamente da Play Store e da App Store por não tomar medidas para limitar a proliferação de mensagens de violência e notícias falsas. Aliás, essa retirada das lojas de aplicativos da Apple e do Google aconteceu depois de todo o distúrbio ocorrido no Capitólio em janeiro de 2021, uma vez que a plataforma foi utilizada para disseminar informações falsas que resultaram naquela invasão, sendo acusada de ajudar os envolvidos no evento a planificar e coordenar as ações criminosas daquele dia.

E o problema é que muitos entendem que a plataforma é um local seguro para falar o que quiser e não pagar pelas consequências disso: no seu auge, o serviço alcançou 2.9 milhões de usuários por dia (hoje, esse número é de aproximadamente 144 mil usuários).

 

Mais um milionário que comprou uma rede social

Sobre Kanye West, ele se une a Donald Trump (que lançou por conta própria o Truth Social) e Elon Musk, que concluiu a aquisição do Twitter. Os três contam com algumas coisas em comum, mesmo que aparentemente sejam personalidades muito diferentes: são ricos, são influentes, são da extrema direita e tentam impulsionar a mensagem da “liberdade de expressão sem limites”.

Kanye West deixa sua visão sobre o assunto muito clara no comunicado de compra do Parler:

“Em um mundo onde as visões conservadoras são consideradas controversas, devemos garantir que tenhamos o direito de nos expressar livremente”.

Vamos então entender o que Kanye West considera como “direito de livre expressão”. Lembrando: ele quer ter o direito de falar sobre o que quiser, sem pagar pelas consequências disso (mesmo que sua fala ofenda ou coloque em risco grupos específicos de pessoas).

Kanye West tem um histórico de declarações polêmicas. Uma dessas declarações aconteceu na redação do TMZ, onde afirmou categoricamente que a escravidão nos Estados Unidos foi um processo coordenado e comandado pelos próprios negros, que venderam outros negros para os escravagistas brancos (em uma teoria que, convenhamos, é simplesmente patética).

O bloqueio de Ye no Twitter e no Instagram aconteceu porque ele fez comentários antissemitas. Vou ser mais específico: Kanye West foi até a rede social para sugerir a morte de judeus.

Palavras de Kanye West no Twitter (antes de ser suspenso na rede social):

“Estou um pouco sonolento esta noite, mas quando eu acordar vou acabar (“death with 3) com 3 judeus.”

O problema aqui está na expressão “death with 3” utilizada por West, que foi considerada uma referência militar no código “defcon”. Para quem não sabe, nos Estados Unidos, existem cinco níveis que indicam a intensidade de uma ameaça à segurança nacional, onde o 5 é o mais baixo e o 1 é o mais alto. Neste caso, a plataforma entendeu que a referência foi a nivel 3 de perigo.

Seja como for, West sugeriu a morte de judeus. O que, por si, já é uma aberração mental por parte do artista.

E é esse o tipo de “liberdade de expressão” que Kanye West defende.

 

Precisamos silenciar os extremistas

Nenhum extremo é válido. E aqui, eu não estou falando exatamente em política, apesar de entender que tudo em nossas vidas está relacionado com política de alguma forma.

Vozes extremistas podem contaminar o coletivo de forma negativa, alimentando o ódio e a diferença entre os menos esclarecidos. Mentes irracionais existem em diferentes faixas socioeconômicas, e as pessoas com baixo senso crítico tendem a seguir os discursos que se alinham com as convicções pessoais, sem pensar no direito do outro e nas consequências que esses discursos podem resultar no próximo.

A liberdade plena de expressão não existe e, de fato, não deve existir. Minha liberdade acaba quando começa o direito do outro, e essa individualidade precisa ser respeitada, principalmente quando os discursos colocam a vida do outro em ameaça.

O Parler ser de propriedade do Kanye West pode parecer algo insignificante perto da compra do Twitter por Elon Musk. E, de fato, é: dá medo pensar que Musk agora é dono de uma das redes sociais mais influentes da internet, e poderá mudar as regras do jogo na plataforma ao seu bel prazer.

Porém, se outros milionários extremistas como Kanye West tomam o gosto de comprar as plataformas para garantir que suas visões sejam disseminadas de forma livre e sem qualquer tipo de filtros, os pensamentos e sentimentos que essas pessoas tanto defendem vão perdurar e prevalecer no grande grupo de usuários que, infelizmente, decidem seus atos e falas pela emoção, e não pela razão.

A compra do Parler por Kanye West é uma notícia pior do que se imagina, mesmo sendo potencialmente menos perigosa que a recente aquisição do Twitter. Porém, eu nem precisava lembrar que um câncer no ser humano pode começar com um minúsculo nódulo.

E… pense no estrago que essa semente plantada por Ye pode causar no futuro.


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