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Fairphone 2 recebeu sete anos de atualizações, e deixa duras lições para os demais fabricantes de smartphones Android

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Todo mundo fica impressionado com os ciclos de vida que a Apple oferece para diversos modelos do iPhone, com um suporte que pode alcançar com facilidade os cinco anos de atualizações. E essa postura deixa praticamente todos os fabricantes de smartphones Android em uma situação que considero como constrangedora, para dizer o mínimo.

Porém, tem um fabricante que colocou a Apple para mamar no suporte ao seu dispositivo: a Fairphone, uma pequena empresa holandesa que anunciou essa semana que o Fairphone 2 finalmente vai deixar de receber o suporte oficial, encerrando o seu ciclo de vida.

Detalhe: o Fairphone 2 será descontinuado após sete longos anos de lançamento.

Como a Fairphone conseguiu essa façanha?

Vamos descobrir isso a partir de agora.

 

Apenas 120 funcionários e uma missão sustentável

Apenas colocando tudo em perspectiva, para melhor compreensão de todos.

Em 2015, a Fairphone era uma empresa com apenas 120 funcionários ao redor do mundo. E se aventurou a lançar um smartphone modular, o Fairphone 2. Além de permitir que os proprietários realizassem por conta própria a reparação e substituição das peças, esse telefone tinha como objetivo oferecer uma proposta sustentável e responsável nos aspectos ambientais.

Para isso, a Fairphone se comprometeu a oferecer tudo o que era necessário para manter o dispositivo atualizado no hardware e no software, produzindo os componentes que iriam manter o telefone compatível com a evolução da tecnologia móvel e do próprio Android.

Felizmente, a Fairphone cumpriu com essa missão, e o Fairphone 2 só será descontinuado agora, em março de 2023. Foram sete longos anos de atualizações, mostrando para todo mundo (principalmente para os grandes fabricantes de smartphones Android) que é sim possível manter um telefone com o sistema operacional do Google atualizado durante muito mais tempo do que o prometido no começo de seu ciclo.

E a Fairphone fez isso sem contar com o suporte oficial do fabricante do processador do Fairphone 2, a Qualcomm.

 

Não foi fácil, mas foi possível

A Fairphone prometeu entre três e cinco anos de atualizações para o Fairphone 2, mas conseguiu chegar nos sete anos. Ou seja, ele saiu do Android 5.0 Lollipop e chegou ao Android 10, algo que nenhum fabricante Android conseguiu na época.

Mas ninguém disse que essa missão seria fácil, principalmente para uma empresa que não tem tantos recursos. Neste caso, quem complicou a vida da Fairphone foi a Qualcomm.

Quando o Google libera a compilação AOSP de uma nova versão do sistema operacional, o fabricante do processador personaliza esse software para um SoC em específico, onde os drivers e outros detalhes são adicionados. Então, essa versão customizada é enviada para o fabricante do smartphone, que adiciona a compatibilidade com todo o hardware dos modelos que fabrica, além das suas personalizações pertinentes.

Só aqui já é possível perceber que o processo é muito mais complexo do que se imagina, o que já dá a entender por que uma atualização do Android demora tanto para chegar até o seu telefone.

O problema é que a Qualcomm abandonou o suporte ao processador Snapdragon 801 presente no Fairphone 2 depois do lançamento do Android 6. A Fairphone superou esse problema usando a ROM LineageOS, mas teve que lidar com os testes de compatibilidade que normalmente eram feitos pelo fabricante do chip.

Resultado: para atualizar o Fairphone 2 par ao Android 9, a Fairphone teve que realizar por conta própria mais de 480.000 testes com essa versão do sistema operacional.

Hoje, o Fairphone 2 conta com o Android 10, que ainda é utilizada por pelo menos 22% de todos os smartphones Android do planeta. Porém, todo mundo sabe que em algum momento no futuro essa versão do sistema operacional vai deixar de receber correções de segurança, o que fará com que os dispositivos que recebem esse software deixarão de ser seguros ou recomendados.

A partir de março de 2023, os usuários do Fairphone 2 vão receber a última atualização do Android 10. Depois disso, o suporte para correção de futuros problemas detectados nessa versão do sistema operacional não estará disponível.

Além disso, a Fairphone deixa claro que:

“A partir de março de 2023, seu dispositivo começará a ficar para trás nas atualizações de segurança, portanto, seu dispositivo ficará mais inseguro com o tempo. Recomendamos que você evite usar aplicativos que acessem dados confidenciais após maio de 2023. Se houver uma vulnerabilidade grave que Fairphone 2 é suscetível, não seremos capazes de corrigi-lo.

Com o tempo, alguns aplicativos críticos de segurança, como bancos, considerarão seu dispositivo desatualizado e pararão de funcionar completamente. É provável que isso aconteça em alguns anos, mas depende do aplicativo, por isso é difícil saber quando. Aplicativos normais continuarão funcionando por anos.”

 

Fairphone constrange os demais fabricantes Android

O que a Fairphone conseguiu com o Fairphone 2 foi algo simplesmente impressionante, principalmente quando olhamos para o tamanho da empresa.

A Fairphone, sendo minúscula, conseguiu superar com sobras gigantes da indústria de telefonia móvel no ciclo de vida do Fairphone 2, o que é algo constrangedor para as grandes marcas.

Durante muito tempo, os principais fabricantes venderam a ideia que um telefone Android só poderia funcionar bem por, no máximo, dois anos, inclusive comprometendo a autonomia de bateria dos dispositivos para forçar a compra de novos telefones.

Hoje, o cenário mudou um pouco. A Xiaomi promete três anos de atualizações para os seus telefones mais completos; a OPPO promete quatro anos de atualizações da versão do Android e cinco anos de atualizações de segurança para os seus modelos mais avançados; a Samsung oferece os mesmos quatro anos de atualizações de sistema e cinco anos de correções para os modelos top de linha e intermediários, e o Google entrega três anos de atualizações do Android e cinco anos de correções de segurança para os seus telefones Pixel.

Mesmo assim, todos os grandes fabricantes de dispositivos Android ficam muito aquém do que a Fairphone alcançou com o seu smartphone modular. E ainda é preciso fazer muita coisa para alcançar um nível minimamente digno e aceitável para essas atualizações.

Afinal de contas, a fragmentação do Android é uma realidade consolidada, e parte da culpa desse cenário está nas mãos dos próprios fabricantes de smartphones, que entendem que o mercado precisa girar a todo custo.

Mesmo que se valha da obsolescência programada para alcançar tal objetivo.


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