Parece que sempre dá para piorar com o Facebook. Para fechar o ano de 2019 da pior forma possível, a empresa comandada por Mark Zuckerberg reconheceu em um documento enviado para dois senadores algo que muita gente sempre desconfiou: que a rede social pode saber qual é a localização dos seus usuários, mesmo que o recurso de geolocalização esteja desligado no smartphone, ou inclusive quando o usuário não aceitou dar a permissão de acesso à localização.
Zuck sempre sabe onde você está
Os senadores que questionaram o Facebook sobre essa questão são Josh Hawley (republicano) e Chris Coons (democrata). Os dois afirmaram que a rede social não respeitava esse aspecto de privacidade dos usuários, e a rede social respondeu aos dois no último dia 12 de dezembro, em uma carta com a admissão de culpa. De forma muito clara, e assinada por Rob Sherman, Vice-Presidente e Sub-diretor Geral de Privacidade do Facebook:
.@Facebook admits it. Turn off “location services” and they’ll STILL track your location to make money (by sending you ads). There is no opting out. No control over your personal information. That’s Big Tech. And that’s why Congress needs to take action https://t.co/R1LuLcP1LP
— Josh Hawley (@HawleyMO) December 17, 2019
“Quando os serviços de localização são desligados, o Facebook pode aprender sobre a geolocalização das pessoas usando informações que elas compartilham por meio das suas atividades no Facebook ou endereços IP e outras conexões de rede que elas usam.”
Na prática, os endereços de IP são utilizados para localizar os usuários no mundo. Podem não ser tão precisos como a geolocalização por GPS e redes WiFi, mas é o suficiente para o Facebook saber mais ou menos onde você está o tempo todo e, assim, aprender os seus hábitos, gostos e interesses.
O Facebook também pode rastrear o usuário pela localização indicada manualmente na rede social ao enviar imagens com metadados de geolocalização registrados pelos aplicativos de câmera. E, repito: o Facebook faz isso sem você ter o conhecimento ou dar o consentimento para utilizar esses dados.
Na resposta dada aos senadores, o Facebook informa que pode obter a geolocalização do usuário por três formas:
1. Sinal de GPS: com o GPS ligado, o Facebook identifica a nossa localização com precisão.
2. Endereço de IP do dispositivo: aqui, o Facebook consegue a sua localização aproximada, mesmo com uma precisão menor.
3. Tags em fotos: o Facebook pode deduzir a sua localização a partir das tags inseridas nas fotos registradas pela câmera do smartphone e publicadas nas redes sociais.
A rede social também foi questionada sobre os objetivos e finalidades para a coleta de dados de geolocalização. E a resposta basicamente foi “para várias coisas”: oferecer publicidade é o principal motivo (pois é disso que o Facebook vive e se alimenta):
“Por necessidade, praticamente todos os anúncios no Facebook são orientados por localização, embora a maioria dos anúncios seja dirigida a pessoas em uma determinada cidade ou região maior”.
Um dos senadores criticou fortemente a forma de agir do Facebook, indicando que os esforços da rede social em proteger a privacidade dos seus usuários “são insuficientes e até mesmo enganosos”. O Facebook alega que os usuários estão no controle da sua própria privacidade, mas na realidade os usuários não têm nem mesmo a opção de impedir a coleta de dados e a exploração financeira de suas informações.
Não existe almoço grátis, e nunca existiu
Não se engane: para o Facebook, você é um produto, mesmo quando você não quer ser. Tudo o que foi relatado aos senadores por parte do Facebook deixa isso muito claro, e muitos de nós que estão mais íntimos com o mundo da tecnologia já tinha conhecimento que era assim que funcionava. O Google e outras empresas fazem exatamente a mesma coisa, mas com métodos diferentes. E o mais grave de tudo isso é que a rede social de Mark Zuckerberg não oferece alternativas para parar com essa invasão de privacidade.
Resumindo: para o Facebook, a geolocalização oferece maior segurança para as contas, para os serviços e uma publicidade mais eficiente. Por outro lado, (quase) ninguém sabe que ela faz isso. E você com certeza não se lembra de ter autorizado a ter essa coleta de dados de forma não transparente.
Quem sabe tais regras estão naqueles termos de uso que você aprovou quando criou a conta no Facebook e que (quase) ninguém lê. Mas… mesmo assim… você não acha que merecia saber disso?
Sim. Você merecia saber disso. Mas a privacidade como conhecíamos acabou. E a única forma de se manter distante dos olhares de Mark Zuckerberg é ficar fora de suas soluções conectadas.
E, mesmo assim, existe a chance de você estar lá, por causa das fotos onde você aparece com os seus amigos.
Via CNBC