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“Elvis”, um filme sobre o legado da lenda Elvis Presley

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Um fato inquestionável: Elvis Presley é uma lenda.

Seu nome está na história da música e do entretenimento de forma definitiva, e nada do que acontecer até o fim dos tempos da humanidade vai mudar isso.

Tudo bem, existe uma discussão (um tanto quanto inútil, é verdade) para definir se foi Elvis Presley ou se foi Michael Jackson o maior vendedor de discos de todos os tempos como artista solo. Porém, a verdade é uma só: “The Pelvis” definiu as regras do jogo para todos que vieram depois dele.

Elvis é tão lenda, que muitos acreditam que ele não morreu. Há quem diga que ele simplesmente voltou para casa, ou seja, o seu planeta de origem (pois alguém como ele poderia muito bem ser um extraterrestre). Já outros juram que viram ele circulando pelo Havaí, pela Argentina e até mesmo em Governador Valadares.

Seja como for, o filme “Elvis”, dirigido pelo competente diretor Baz Luhrmann tem como principal objetivo celebrar o legado de Elvis Presley, envolvendo emocionalmente todos que gostam de música, da história da música e de uma personalidade de tamanha magnitude.

E, neste caso, é importante refletir sobre algumas coisas apresentadas ao longo de 2h40 de filme.

Sem spoilers, é claro.

 

 

 

Reparação histórica

É óbvio que “Elvis” conversa diretamente comigo quando mostra ao longo de praticamente o filme inteiro que Elvis Presley sempre fez questão de mostrar ao longo de toda a sua carreira qual era a sua origem musical. Para quem quisesse ouvir e, é claro, para aqueles que não queriam ouvir.

Era de conhecimento público que Elvis descobriu a sua alma musical com a música do povo preto dos Estados Unidos, combinando o country, o blues, o gospel e o rythm and blues em um andamento frenético e elétrico. Algo que os músicos brancos, que abraçaram exclusivamente o country com todas as forças, não conseguiam fazer ou compreender.

Mas o que tornou Elvis Presley diferente de todos os outros foi entregar essa combinação de ritmos de música preta com o country do povo branco através de uma dança com movimentos pélvicos que deixavam as mulheres na época simplesmente ovulando por causa do jovem cantor.

Elvis jamais compreenderia essa combinação explosiva e provocativa se não tivesse convivido de perto e por vontade própria com a comunidade negra dos Estados Unidos. Fez questão de ser parceiro e amigo pessoal de lendas da música preta como B.B. King e Little Richard, e isso fez toda a diferença para a sua popularidade.

“Elvis” trabalha essa reparação histórica que foi negada e perseguida por parte da sociedade racista norte-americana que, preocupada com a quase inevitável miscigenação racial a partir da música de Presley, acusaram o cantor de “ser uma ameaça à sociedade decente”. E esse conflito pautou parte da carreira do nosso protagonista.

 

 

 

Uma produção impecável, com uma trilha sonora envolvente

Se você imagina ir ao cinema para ver um filme exclusivamente preenchido com músicas de Elvis Presley, terá uma agradável surpresa.

Baz Luhrmann apresenta em “Elvis” uma inteligente experiência sonora, combinando os maiores sucessos de Elvis Presley com músicas de rap e hip-hop (reforçando a reparação histórica mencionada no segmento anterior e a influência da música negra na alma musical do protagonista), além de remixes especialmente preparados para o filme.

Austin Butler está excelente como Elvis Presley. Além da semelhança fisionômica, ele entrega o carisma necessário para envolver o espectador.

Finalmente testemunhamos Tom Hanks interpretando um vilão no cinema (o empresário de Elvis Presley), e mais uma vez mostra sua competência e elevada qualidade na atuação. E até mesmo o elenco secundário ajuda a compor a história conduzida pelos dois protagonistas da trama.

“Elvis” é um filme que deixa muito claro que foi dirigido por Baz Luhrmann, já que o seu DNA está em todos os detalhes. A edição frenética e as transições dinâmicas de cena lembram demais dois dos seus melhores filmes (e duas de suas obras que são as minhas preferidas): “Vem Dançar Comigo” e “Moulin Rouge”.

Assim como aconteceu nesses dois filmes, o trabalho de produção em “Elvis” beira à perfeição, com uma absurda riqueza de detalhes.

Os principais eventos da vida de Elvis Presley que Baz decidiu abordar são impecavelmente recriados, nos mínimos detalhes. Inclusive nos aspectos estéticos dos bastidores desses eventos. Tudo isso gera uma maior imersão ao expectador, que não tem qualquer dificuldade em desenvolver a tão importante “suspensão de descrença” diante da obra exibida na grande tela.

Mas… vamos separar as coisas?

 

 

 

Elvis Presley é vítima do seu próprio destino?

É fundamental deixar claro que “Elvis” é um filme que tem a chancela da “família Presley”, ou do que sobrou dela.

A herdeira do legado de Elvis é a única filha que ele teve com Priscilla Presley, Lisa Marie (sim, ela mesma… ex-esposa de Michael Jackson). Logo, temos sempre que considerar que o filme conta a história que a família quis contar, e isso gera consequências sérias na narrativa da trama.

Neste caso, a história de “Elvis” escolhe um vilão claro: seu empresário, o “coronel” Tom Parker (Tom Hanks), que deixa isso claro logo nos primeiros minutos do filme. Em teoria, ele conta a sua versão dos fatos, convidando o espectador a decidir se ele (Tom) é mesmo o responsável pelos eventos que serão apresentados.

Na prática, não podemos dizer que “Elvis” tenta criminalizar a imagem de Tom Parker. A justiça definiu que ele agiu de forma abusiva na gestão da carreira de Elvis Presley, e o roteiro do filme se vale disso para contar a sua história.

Por outro lado, a consequência direta dessa escolha é a clara impressão que o próprio Elvis Presley “não fez nada de errado” ao longo de sua vida, e que tudo o que ele fez foi pela influência de Tom e de outras pessoas que se aproximaram dele por ser “apenas” o maior astro vivo dos Estados Unidos na época.

Quem conhece a fundo a história de Elvis Presley sabe muito bem que muitas de suas atitudes em ambiente privado são de gosto duvidoso e até condenáveis em alguns aspectos. Porém, tudo isso foi simplesmente ignorado no filme, que constrói uma estrutura narrativa que “protege” o protagonista a todo custo.

Isso é algo que particularmente não me agrada.

Quando assisto a uma cinebiografia, quero conhecer detalhes daquela pessoa que até então não foram revelados, detectar os seus pontos fracos e estabelecer a empatia a partir de suas fraquezas (pois são os erros que humanizam as celebridades, estabelecendo assim uma aproximação com aquela pessoa que está sentada na poltrona dentro de uma sala de cinema).

Não quero aqui dizer que não me senti envolvido ou sensibilizado com o Elvis apresentado por Baz Luhrmann (até porque, de novo, Austin Butler é um ator muito carismático). Porém, a “passada de pano” em Elvis foi quase problemática. Até ao ponto do pai dele ser considerado “vítima” de um sistema que ele mesmo (o pai) se beneficiou em boa parte do tempo.

De qualquer forma, mesmo entendendo que o filme dá uma certa “santificada” na imagem de Elvis Presley (o que acho até nobre por parte de Lisa Marie, mas não de Priscilla, que sofreu muito no final do casamento), nem isso tira “Elvis” do seu saldo positivo.

 

 

 

“Elvis” vale (e muito) pela diversão

No final das contas, “Elvis” vale sim o ingresso.

É um filme extremamente divertido e intenso, que envolve o espectador do começo ao fim. São 2h40 que passam voando e não cansam, pois Baz Luhrmann sabe manter bem o ritmo de sua narrativa, equilibrando a alternância dos momentos musicais com os trechos de desenvolvimento da trama.

Pode ser cedo para dizer, mas “Elvis” é um dos filmes elegíveis para a próxima temporada de premiações que culmina no Oscar 2023. Apenas como parâmetro: seu nível de produção é muito similar ao de “Amor Sublime Amor” dirigido por Steven Spielberg, e isso deve fazer com que ele receba a visibilidade necessária para ser indicado a alguns prêmios.

Particularmente, fico feliz que um filme como “Elvis” tenha alcançado a popularidade com o público. Na teoria, isso não seria algo tão difícil de conseguir, já que o filme tem como protagonista um dos mais populares cantores da história. Porém, sei que muita gente se assusta quando lê a informação que o filme tem nada menos que DUAS HORAS E QUARENTA MINUTOS de duração.

Se a jornada é mais importante que o final da caminhada, recomendo que “Elvis” seja visto com atenção até o final. Mesmo que você saiba como ele termina.

Pois é importante que você, ser humano dito racional que gosta de música e da musicalidade oferecida por Elvis Presley ao longo de sua carreira, identifique de forma clara quais foram os seus desejos, anseios e aspirações até o fim de sua vida.

A última canção que Elvis canta em “Elvis” é o final perfeito para uma jornada de um cantor que fez de tudo para entregar ao mundo aquilo que sua alma musical sussurrava, falava ou gritava dentro dele.

E, neste caso, a sua “melodia inacabada” será eternamente concluída pelos seus fãs, que cantam o seu legado quase 50 anos depois de sua morte.

Ou melhor, de sua volta para casa.

“Elvis” é um filme sobre um legado. Vá ao cinema com isso em mente, e terá diversão garantida.


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