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EA se deu conta que o nome FIFA importa

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Quem mais perdeu com a perda do nome FIFA no seu jogo de futebol foi a EA, e o tempo mostrou isso.

Quase um ano depois da reformulação da marca do jogo (que agora se chama EA Sports FC), testemunhamos uma queda sensível nas vendas do título sem o nome FIFA.

E… diferente do que muitos podem imaginar, essa queda nas vendas não aconteceu porque “o jogo é um mais do mesmo”, pois isso é cair no lugar comum.

A queda de popularidade aconteceu também porque é um jogo de futebol que, sem o nome FIFA, vira um game como outro qualquer.

 

O contexto da ruptura

Desde o lançamento do FIFA 23 em 2023, a EA se viu compelida a abandonar a tradicional marca associada à federação internacional de futebol optando por adotar sua própria identidade com o nome EA Sports FC.

A decisão era praticamente inevitável diante de um contrato desgastado e de divergências quanto ao valor e às condições de uso da marca FIFA, e recebida com ceticismo tanto pelo mercado quanto pelos fãs.

Diversos relatórios como o divulgado pelo New York Times em maio de 2023 apontavam que a tentativa de prolongar o uso do nome FIFA estava longe de ser viável, uma vez que o acordo começava a evidenciar suas limitações e a necessidade de repensar o posicionamento da franquia.

Afinal de contas, a FIFA estava pedindo nada menos que US$ 300 milhões para renovar com a EA o licenciamento de sua chancela para o jogo de futebol mais popular dos videogames.

E a EA entendeu que era muito dinheiro a ser pago.

Será que agora eles estão percebendo que era melhor pagar?

 

Desavenças financeiras e estratégicas

Um dos principais pontos de atrito entre a EA e a FIFA diz respeito à remuneração e à utilização da marca.

A possibilidade de a federação dobrar os já expressivos 150 milhões de dólares anuais cobrados da EA representava um fardo financeiro insustentável para a desenvolvedora.

Além disso, as exigências de controle quanto à associação da marca FIFA a outros produtos digitais limitaram a flexibilidade estratégica da empresa, forçando a EA a buscar alternativas que pudessem garantir uma margem de manobra maior para a diversificação de sua oferta no mercado dos videogames.

A tentativa de mudança causou repercussão no mercado financeiro: em 2021, quando a EA anunciou seus planos para a transição de marca, as ações da companhia sofreram uma queda imediata, sinalizando a apreensão dos investidores quanto ao impacto de um rebranding tão significativo.

E a conta veio… cobrando pesado da EA.

 

Impactos no desempenho da franquia

Os resultados do terceiro trimestre do ano fiscal evidenciam que a mudança não trouxe os resultados esperados. Bem longe disso. Muito pelo contrário.

Conforme informações do CEO Andrew Wilson, a baixa lucratividade, atribuída em parte ao desempenho abaixo do esperado do EA Sports FC 25, contribuiu para uma queda de 3% nos lucros da empresa.

Mais especificamente, a franquia de futebol apresentou um declínio anual de 5% neste período, fato que reforça a hipótese de que a remoção do selo FIFA pode ter afetado diretamente a percepção de valor do produto junto ao consumidor.

É muita coisa para um jogo de futebol. E é um prejuízo enorme para uma gigante como a EA.

Insisto: será que não teria sido melhor pagar US$ 300 milhões para a FIFA?

Outro aspecto importante nessa problemática é o comportamento dos jogadores, que simplesmente ignoram o EA Sports FC, considerando o jogo basicamente um ilustre desconhecido.

A análise interna da EA apontou que, durante períodos festivos (natal e ano novo), a base de usuários se dispersava, o que resultou em um desempenho comercial aquém do potencial.

A EA reagiu, e até conseguiu bons resultados com a iniciativa. Em 16 de janeiro de 2025, um patch de correção e novidades foi lançado, e conseguiu elevar a retenção de jogadores acima das expectativas, deixando um cenário de esperança para o último trimestre do ano fiscal.

O problema aqui é que não dá para viver de esperança. No mercado de games, você vive é de dinheiro mesmo.

 

O peso da marca na fidelidade do consumidor

Um dos pontos mais delicados no rebranding é justamente o valor simbólico e o reconhecimento associado ao nome FIFA.

Por décadas, o nome carregava consigo um legado e uma confiança que, aparentemente, não se transferiram automaticamente para o novo rótulo.

Dados do Google mostram uma queda acentuada nas buscas referentes aos títulos dos jogos dos anos 2024 e 2025, sugerindo que a ausência do nome FIFA tem gerado uma desconexão com parte do público tradicional da franquia.

Embora a essência dos jogos – no que diz respeito às licenças de clubes, jogadores e competições, que é parte do que desperta o interesse do jogador – continue inalterada, a força da marca FIFA atuava como um atrativo poderoso para os consumidores.

E essa não é apenas uma questão de chancela de nome. É da experiência FIFA oferecida. Não estou falando aqui necessariamente de jogabilidade, mas do pacote gráfico, das estatísticas e da percepção que estamos jogando um game chancelado pela entidade máxima do futebol.

Essa é uma experiência de uso que foi oferecida para os jogadores ao longo de três décadas, e é muito difícil criar uma desconexão com tudo isso de forma repentina.

Toda e qualquer adaptação para a nova marca exige tempo e paciência. E eu não sei se a EA possui os dois.

Assim, a tentativa de restabelecer essa identidade sob um novo nome enfrenta o desafio de reconquistar a confiança e o entusiasmo de um público acostumado com a tradição.

Uma tarefa que os números deixam muito claro que não será das mais fáceis.

 

A EA se encontra em uma encruzilhada

Por um lado, a decisão de romper com a FIFA foi motivada por imperativos financeiros e pela necessidade de autonomia estratégica, e muitos entendem que o divórcio forçado foi a melhor alternativa em longo prazo.

Por outro lado, os resultados comerciais demonstram que a transição de marca, por si só, não é suficiente para garantir o sucesso contínuo da franquia, e que ter um FIFA no nome do jogo é algo que importa para os jogadores.

A resposta do mercado – refletida em números e no comportamento dos consumidores – indica que o valor agregado pelo nome FIFA ainda é algo influente na decisão de compra de um jogo de futebol.

Para o futuro, a empresa precisará investir não apenas em melhorias técnicas e em atualizações que atendam às expectativas dos jogadores, mas também em estratégias de comunicação e marketing que possam reconstruir a identidade da franquia.

A fidelização do público dependerá de uma articulação cuidadosa entre a herança deixada pelo antigo nome e a inovação necessária para estabelecer a nova marca como um sinônimo de qualidade e autenticidade no universo dos videogames de futebol.

E se tudo isso der errado, a EA não terá outra alternativa, a não ser abrir os cofres e pagar o que a FIFA está pedindo.

Quando sua empresa perde entre 3% e 5% de suas receitas por causa de um nome, é digno de repensar sim se essa decisão foi a mais acertada.

Eu me odiaria se eu estivesse na linha de frente de uma empresa e, por um simples erro de deixar ir embora um nome muito lucrativo, promover a perda de um dinheiro ainda maior do que a grana que a tal FIFA estava pedindo para renovar a parceria.


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