Eu queria ter a autoestima e a confiança de Jeff Bezos.
A Amazon realmente acredita que, depois de anos só testemunhando o que OpenAI, Google e Meta fizeram no campo de inteligência artificial, que pode revitalizar a Alexa que, neste exato momento, é mais burra do que quem vota em candidato a que afirma dar soco em tubarão.
A gigante varejista é duramente criticada pelos seus usuários por conta desse atraso na inovação do seu assistente digital, e chegou a cogitar desativar a Alexa para sempre.
Agora, quer dar uma segunda vida para a Alexa, deixando o assistente virtual inteligente de novo?
Como assim?
Como a Amazon vai ressuscitar a Alexa
A Amazon anunciou que vai compartilhar novidades sobre o assunto em 26 de fevereiro, e deve apresentar de forma oficial aqueles que são conhecidos como modelos fundacionais, que permitem a geração de texto, imagem e vídeo. Dessa forma, ela quer melhorar a automação de serviços para competir com Adobe e Meta nesse segmento.
O modelo de IA de fala Amazon Nova tem lançamento confirmado para o primeiro trimestre de 2025. Isso mesmo: para o mês que vem.
Como estamos falando de um modelo conversacional, que será capaz de interpretar nuances verbais e não verbais para as interações, é correto dizer que o Amazon Nova é sim pensado na Alexa.
O relançamento da Alexa com IA generativa fará com que a assistente virtual se transforme em uma “concierge virtual” (e essa expressão é simplesmente horrorosa), oferecendo sugestões e ajustando suas configurações com base nas necessidades do usuário.
Repito: é meio tarde quando todo mundo está fazendo exatamente a mesma coisa com o ChatGPT e o Gemini. A única diferença aqui é que essa interação com a Alexa vai melhorar a relação com as tomadas e lâmpadas inteligentes da sua casa.
O grande desafio da Amazon (e é aqui que eu vejo que Bezos tem um otimismo enorme) é justamente integrar um chatbot baseado em LLM (Modelos de Linguagem Grande) ao serviço da Alexa.
A interação por voz é muito mais complexa do que a conversa por texto, já que o que a Amazon quer é que a Alexa entenda quando você está sendo irônico e debochado, diferenciando o tom de voz de uma pergunta mais séria.
Além disso, um modelo multimodal capaz de receber e gerar saídas em texto, imagens, áudio e vídeo, no melhor estilo ChatGPT, será lançado em meados de 2025, mas não há muitas informações sobre ele.
É mais difícil do que parece
A Amazon investiu na startup Anthropic, cujo modelo Claude é considerado competitivo em relação aos modelos da OpenAI.
De fato, é. Muitos usam o Claude AI para produção de textos de qualidade, e a sua base de dados pode favorecer na ideia de interação por voz com nuances.
A empresa planeja usar diferentes modelos de IA, incluindo o Claude, para traduzir consultas de voz e gerar respostas na nova Alexa.
O grande problema da Amazon neste momento é que, por dormir demais no ponto, foi solapada pelo próprio tempo, e pelos elementos surpresa que o tempo reserva.
O boom de IA generativa após o lançamento do ChatGPT era mais do que esperado. E com a chegada do DeepSeek mudando as regras do jogo, ficou difícil para a Amazon se organizar para melhorar a Alexa, que hoje parece uma imbecil que só sabe dizer as horas e errar na previsão do tempo.
A Amazon está muito atrás para lidar com problemas que outras empresas estão superando, como as tais “alucinações” de IA nas respostas, a velocidade de execução dos prompts e confiabilidade das informações.
De novo: integrar um chatbot baseado em LLM na Alexa, que é um sistema de interação por voz, passa bem longe de ser a tarefa mais fácil do mundo.
Agora, some tudo isso com o fato de que a Amazon não tem dados suficientes para deixar sua IA mais inteligente, ou acesso aos chips de computadores especializados para executar as tais LLMs para competir com outras empresas, e temos aqui uma tempestade perfeita.
Tudo bem, a Amazon tem recursos (quase) infinitos, e ela é uma das empresas que podem conquistar um lugar no já muito disputado mercado de inteligência artificial.
Mas perder mais de um ano para entrar nessa briga tornou a missão automaticamente muito mais complexa.
E Jeff Bezos precisa ter uma autoconfiança enorme para acreditar que pode prevalecer, mesmo chegando muito atrasado na disputa.
Via Reuters