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É o fim da Huawei como a conhecemos…

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A Huawei que conhecemos hoje é completamente diferente da Huawei do passado. A marca ainda é muito presente no mercado chinês, mas tinha a perspectiva de ser uma das maiores vendedoras globais, ameaçando Samsung e Apple com força…

…antes de todos os bloqueios e embargos do governo norte-americano contra a principal ameaça comercial da China aos EUA. E esses mesmos impedimentos de duas gestões presidenciais obrigaram a Huawei a tomar decisões drásticas sobre seus produtos e serviços.

Neste artigo, mostro como a Huawei teve que se reinventar para ser minimamente sustentável no mercado de tecnologia como um todo, mostrando todos os desafios que apareceram para a empresa no mercado mobile em particular.

 

A resiliência da Huawei

A Huawei se tornou refém da guerra comercial entre EUA e China, o que resultou em sanções severas contra a empresa, como a proibição do uso do Android em seus dispositivos e o distanciamento das empresas norte-americanas como um todo.

O sistema operacional do Google é, talvez, a mais poderosa moeda de troca que qualquer fabricante Android precisa ter na mão para começar a conversar com o grande público consumidor.

E sem essa moeda, a Huawei não podia sequer entrar em mercados estratégicos, como é o caso do Brasil. Nosso consumidor precisava ser convencido a migrar de plataforma para ter nas mãos bons smartphones, mas com um sistema operacional diferente, que não conversava com os aplicativos do Google, como Gmail e Google Mapas.

E a marca sabia que não tinha esse poder de convencimento nas mãos.

Agora, some isso ao histórico da dinâmica de mercado com o mesmo cenário, com marcas gigantes como Nokia e LG, que encerraram suas divisões de smartphones por motivos similares, e temos para a Huawei um cenário ainda mais complexo.

Pois bem… a Huawei enfrentou a todo isso com coragem.

A gigante chinesa se adaptou e cresceu em meio às adversidades, consolidando-se como um exemplo de persistência dentro do setor de tecnologia.

Apesar dos impactos iniciais das sanções, a Huawei conseguiu não apenas sobreviver, mas prosperar dentro do mercado mobile.

Depois de anos de bloqueio estabelecido pelos governos dos EUA, a Huawei lançou um sistema operacional próprio, trabalha com os processadores HiSilicon, que são excelentes e fabricados na China, e se mantém sólida no Top 5 global com as vendas praticamente concentradas no mercado chinês.

A criação do HarmonyOS foi outro grande fator para que a Huawei se mantivesse no jogo do mercado mobile, apresentando uma alternativa minimamente convincente ao Android.

Inicialmente, ele trabalhava em conjunto com o Android, atuando como uma capa de personalização à versão AOSP (Android Open Source Project) do sistema operacional do Google.

Mas agora, a empresa evoluiu para o HarmonyOS Next, um sistema operacional totalmente independente e afastado das influências americanas.

Combinando o software competente com a autossuficiência da Huawei no hardware, já que os seus semicondutores HiSilicon estão se destacando nas vendas com um aumento acima do esperado, e temos o cenário de momento, onde a empresa se mostra como uma constante ameaça à dominância de Apple e Samsung.

Mesmo com todas as adversidades impostas pelo governo norte-americano, as receitas da Huawei em hardware aumentaram significativamente. A receita de vendas de smartphones aumentou, com a HiSilicon registrando um crescimento anual de 211% no terceiro trimestre de 2024.

Com o apoio da Semiconductor Manufacturing International Corporation (SMIC), que é líder em tecnologia de chips na China, a HiSilicon fez avanços nos processos litográficos de 2 e 3 nanômetros da série Kirin, se tornando uma força ascendente que segue de perto a tecnologia do Ocidente.

Ainda temos algumas dúvidas sobre a capacidade de produção de hardware da HiSilicon, mas não temos dúvidas sobre o seu potencial de crescimento com tanta resiliência. A prova disso é justamente a marca ser a dominante das vendas na China, e isso ser o suficiente para se manter no ranking dos maiores vendedores globais.

Todo o avanço no hardware permite que a Huawei avance na implementação do sistema operacional Harmony Next em seus dispositivos, reforçando a ideia de construção de um ecossistema independente do Android.

É preciso ter muita coragem para tomar esse tipo de decisão. Outros fabricantes de smartphones tentaram a mesma coisa, mas não conseguiram a visibilidade necessária para ser considerada uma alternativa ao duopólio Android/iOS.

E é justamente a Huawei aquela marca que está mais próxima de alcançar esse objetivo de forma sustentável.

O que pode atrapalhar as ambições da Huawei é a volta de Donald Trump ao poder (é claro).

 

A perspectiva de futuro

Com o retorno de Donald Trump ao cenário político, as tensões entre EUA e China podem se intensificar, impactando novamente a Huawei e outros players do setor.

Trump promete uma política econômica de protecionismo, com aumento da carga tributária para produtos importados ou fabricados fora dos EUA.

Isso por si já atrapalharia a vida da Huawei se ela estivesse no mercado norte-americano. Mas como ela não está no país, e as restrições de Trump podem ser ainda maiores, não seria um absurdo pensar que a situação para a gigante chinesa pode ser ainda pior.

Por outro lado, a Huawei quer redefinir a forma como os dispositivos se conectam e interagem entre si via software.

O foco da empresa está em criar um ecossistema robusto com o HarmonyOS Next, priorizando a inovação e a autossuficiência tecnológica. Essa pode ser a saída para uma Huawei que possui ótimos smartphones, mas precisa lidar com os problemas que estão à margem do setor de tecnologia.

O HarmonyOS Next é um marco na história da tecnologia da China. Ele se posiciona como o primeiro ecossistema completo a surgir no país, oferecendo uma alternativa robusta e inovadora que visa evitar o destino sofrido pelo Windows Phone, com uma gama diversificada de aplicativos e recursos.

Não só smartphones e tablets fazem parte dessa estratégia. A Huawei está acelerando o desenvolvimento de uma versão do HarmonyOS para computadores, indicando que a empresa está claramente trabalhando para alcançar a convergência de dispositivos, exatamente da mesma forma que Apple e Samsung fizeram.

Não depender do Windows (e nem mesmo de qualquer distribuição Linux) parece ser o próximo objetivo da empresa, reforçando a ideia de ecossistema independente de qualquer amarra do ocidente, e sempre oferecendo uma experiência de uso singular.

Pelo visto, ameaçar o duopólio Android/iOS na China não é o suficiente para a Huawei. Se a empresa conseguir expandir o alcance do HarmonyOS para outros tipos de dispositivos, ela tem tudo para ser a nova titã do setor tecnológico. E eu não estou utilizando esse termo como um exagero retórico.

E a Huawei pretende fazer isso, sem abrir mão do desenvolvimento do 6G, tecnologia que a marca já demonstra esta alguns passos à frente de qualquer player norte-americano no setor de dados móveis e telefonia.

A Huawei entende que precisa ajustar o 6G para um uso combinado com os recursos de Inteligência Artificial já existentes, ou para as tecnologias dentro desse segmento que vão aparecer no futuro.

Em uma proposta que passa por uma arquitetura que vai além daquela baseada em serviços, mas mais orientada para os aplicativos e dispositivos integrados. E como passamos a maior parte do tempo falando da combinação de telefones com outros dispositivos, o 6G ganha protagonismo neste aspecto (também).

Se isso acontecer, a Huawei novamente será pioneira em um uso proativo das futuras redes de dados móveis. E será difícil dizer NÃO para suas inovações neste aspecto.

No final das contas, não ser a mesma Huawei que conhecemos um dia é um sinônimo de ser uma empresa melhor e mais poderosa. A ponto de causar medo na Apple, na Microsoft e em Donald Trump.

E… acredite, caro leitor… isso não é pouca coisa.


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