A Apple construiu seu império no mercado de smartphones ao longo de mais de uma década, estabelecendo-se como referência absoluta no setor. E é sempre importante lembrar que ela veio “do nada”, onde a única experiência com o mercado mobile foi aquela parceria com a Motorola, que rendeu o ROKR E1.
A empresa californiana parecia invencível até recentemente, quando alguns indicadores começaram a revelar sinais preocupantes de declínio. Os números de vendas perderam o brilho anterior, e a capacidade de surpreender consumidores diminuiu significativamente.
Sei que é até perigoso voltar para essa pergunta, mas diante desse cenário e da nova dinâmica tarifária de Donald Trump (que pode resultar no iPhone mais caro que a história, mesmo que a Apple não queira), o momento é propício: a Apple está mesmo com os dias contados?
A aura de desconfiança que incomoda
Embora ainda figure entre as marcas mais valiosas mundialmente e mantenha posições em rankings de popularidade, os sintomas de desgaste tornaram-se inegáveis. Nem mesmo os altos executivos da empresa se esquivam em falar abertamente sobre isso para a imprensa.
Sem falar na recente e devastadora matéria que compartilhou os bastidores do desenvolvimento do Apple Intelligence, revelando um ambiente confuso e bizarramente incompetente, levando em consideração a empresa em questão.
A concorrência acelera o ritmo de inovação, enquanto decisões questionáveis da Apple relacionadas a design, tecnologia e estratégia de preços atraem críticas crescentes do mercado especializado.
Quedas nas vendas sempre preocupam
O iPhone representa o produto central do portfólio Apple e principal responsável pela ascensão da companhia. Durante muito tempo, a empresa dependeu desse produto para ser rentável, com 50% das receitas vindas das vendas do telefone.
Contudo, o dispositivo deixou de funcionar como motor primário de crescimento nos últimos anos. Dados oficiais registram queda de 2,45% nas vendas durante o terceiro trimestre de 2023 comparado ao período anterior.
Pode não parecer muita coisa, mas é o primeiro sinal claro de que as pessoas estão parando de comprar um iPhone todos os anos, ou deixando de lado a ideia de ter o telefone da Apple como item prioritário.
A situação se agravou no final de 2024, quando as vendas despencaram 5% devido à recepção negativa do iPhone 16. As inovações apresentadas no modelo falharam em convencer usuários, resultando em performance comercial decepcionante para padrões históricos da marca.
O que atenuou a situação da Apple recentemente foi, por incrível que pareça, o criticado iPhone 16e. Mas todo mundo sabe que ele não é rentável para a empresa a médio e longo prazos, pois não oferece a maior margem de lucro por unidade vendida.
Mercado chinês se torna território hostil
A China ainda é um mercado fundamental para a Apple em vendas de smartphones e demais dispositivos eletrônicos. E isso nem é uma novidade para se abordar em um texto de tecnologia, já que estamos falando de um país com um enorme público em potencial.
A realidade de momento mudou para a Apple de forma drástica, registrando redução de 30% nas vendas do iPhone em toda região asiática. Algo que, de certa forma, também é uma consequência dos bloqueios comerciais e das políticas tarifárias atuais.
O ressurgimento da Huawei como competidor local forte também contribuiu para essa mudança de cenário. E o que é pior: com uma enorme independência do hardware norte-americano.
O aumento do consumo de produtos nacionais chineses e restrições governamentais impostas a dispositivos tecnológicos estrangeiros intensificaram as dificuldades da Apple naquele mercado.
A empresa perde presença em um dos maiores mercados globais de tecnologia, perdendo um volume de vendas que acabam impactando diretamente nos seus resultados financeiros.
Inovação muito estagnada
A Apple tradicionalmente destacou-se por um marketing eficiente e capacidade superior de comercialização de smartphones avançados. Mas essa vantagem competitiva diminuiu progressivamente, tornando mais complexo o processo de inovação para a marca.
A mais recente geração de iPhones confirma essa estagnação nos detalhes. Por exemplo, o iPhone 16, lançado em 2025, chegou ao mercado com uma tela de 60 Hz no modelo base. Algo inaceitável para um produto com o seu valor de mercado.
A Apple está na mesma há anos, com produtos que insistem em conter detalhes que são obsoletos. Enquanto isso, smartphones Android que custam muito menos incorporam tecnologia de 120 Hz como padrão em suas telas.
A autonomia de bateria e velocidade de carregamento são outros dois fatores que mostram como a Apple está obsoleta na sua ideia de oferecer inovações em seus smartphones. Ou melhor, na insistência em não oferecer o melhor em seus produtos.
Ver dispositivos Xiaomi, Samsung e outras marcas superam consistentemente os modelos iPhone na bateria se tornou “o novo normal”, algo que jamais deveria acontecer neste momento.
Os preços elevados praticados pela Apple agravam a situação competitiva. O mercado oferece smartphones Android com especificações equivalentes aos iPhones por valores substancialmente menores, questionando a proposta de valor da marca californiana.
É o fim da Apple?
Obviamente, é prematuro demais decretar qualquer coisa. Principalmente um cenário tão drástico como o fim da Apple, tal e como conhecemos.
O problema é que os números são frios, e precisam de um pouco mais de atenção por parte dos principais executivos da gigante de Mountain View.
Os indicadores numéricos sinalizam alertas evidentes. A empresa enfrenta perda de interesse dos consumidores em seu produto principal, críticas por decisões questionáveis em dispositivos muito caros e diversos outros problemas estruturais.
O tempo determinará se outras marcas assumirão efetivamente a liderança do mercado móvel. Mas uma coisa parece certa: a era Tim Cook na Apple está cada vez mais perto do fim, pois mudanças drásticas no modelo de gestão da empresa são necessárias.