A polêmica está servida, senhoras e senhores.
Uma música viral dos artistas Drake e The Weeknd desembarcou na internet fazendo um enorme barulho, e não só pela qualidade artística. Na verdade, a canção foi composta por uma inteligência artificial.
A música ‘Heart on My Sleeve’ rapidamente viralizou nas redes sociais, com mais de 1.000 vídeos reutilizando a música no TikTok e outras plataformas. E isso assustou as gravadoras (pra variar), que agora reivindica os direitos autorais de uma canção onde eles nem chegam perto de serem os criadores.
E é aqui que está a polêmica, meus amigos!
Até porque a IA gerou um grande problema para toda a indústria fonográfica: compôs uma música MUITO BOA!
Como uma IA pode criar uma música?
Segundo Roberto Nickson, co-fundador da MV3, é possível personificar a voz de qualquer artista gravando um trecho de uma música com e aplicando um algoritmo de substituição.
Dessa forma, qualquer pessoa pode compor e cantar uma música, e a IA vai substituir a voz do mero mortal pela voz de um artista consagrado. O resultado é simplesmente espetacular, e esse tipo de tecnologia “pode mudar a música para sempre”.
De fato, pense nas possibilidades. “Ressuscitar” músicos lendários como Elvis Presley, Frank Sinatra, Whitney Houston e Michael Jackson já é algo possível com as tecnologias disponíveis. Basta ter as ferramentas corretas para a tarefa. Nem é preciso ter a criatividade ou conhecer de forma profunda os estilos de composição e canto de cada um deles, pois um software bem treinado faz todo o trabalho pesado.
E você já deve imaginar quem não gostou nada dessa brincadeira…
A indústria fonográfica já está morrendo de medo disso
A maior gravadora do mundo, a Universal Music Group (UMG), pediu para as plataformas de streaming como Apple e Spotify para bloquear empresas de IA para que não pudessem usar suas músicas para treinar suas tecnologias. A UMG indicou que “não hesitará em tomar medidas para proteger os nossos direitos e os dos nossos artistas”.
Este movimento da UMG é semelhante ao que aconteceu em 1999 com o lançamento do Napster, um aplicativo que revolucionou a indústria fonográfica ao permitir o compartilhamento descentralizado de músicas, o que resultou em um enorme pesadelo para as gravadoras.
A indústria fonográfica processou o Napster de todas as formas, e conseguiu acabar com o serviço tal e como ele originalmente foi concebido. Mas isso foi um divisor de águas: desde então, as vendas de CDs e vinis registraram queda livre, e a Apple olhou para todo esse movimento e basicamente iniciou a era de downloads de músicas com sua iTunes Music Store.
Desse ponto para a chegada do streaming em nossas vidas, foi só um passo adicional. E temos o mundo da música como é hoje, onde as gravadoras perderam muito do seu poder e influência no mercado, com as pessoas escolhendo o que querem ouvir a qualquer momento, de forma muito mais orgânica.
Pode ser puro marketing
Há quem diga que a criação dessa música por uma IA é fruto de uma campanha secreta, ou um movimento de marketing do Drake. Tudo bem, eu desconfiaria de algo desse tipo vindo do Kanye West, mas existem algumas evidências que podem denunciar o movimento midiático.
Um link para Laylo, uma plataforma que trabalha com criadores de conteúdo, aparece nas informações de créditos do autor da música, e seu fundador, Alec, parece ser um grande fã de Drake.
A teoria é que o lançamento dessa plataforma e aquele trecho da música são, na verdade, um movimento promocional. No entanto, nem o Ghostwriter977 (username responsável pela música criada por Inteligência Artificial), nem Drake ou The Weeknd se pronunciaram oficialmente sobre o assunto.
Independentemente do propósito da criação da música, uma coisa é certa: a inteligência artificial está se tornando cada vez mais presente na indústria da música. Já existem diversos sistemas de IA capazes de criar canções 100% originais, como AudioGen, Jukebox (da OpenAI), Dance Diffusion ou o recente MusicLM criado pela Google.
E a pergunta mais importante: com quem fica os direitos?
O debate em torno da utilização de inteligência artificial na criação de música é um tema complexo e controverso.
Por um lado, há quem defenda que a utilização da IA, pois essa ferramenta pode ser uma forma de democratizar a produção musical, permitindo que mais pessoas tenham acesso aos recursos necessários para criar música. Além disso, a IA pode ajudar a expandir a criatividade humana, fornecendo novas ideias e possibilidades que não seriam possíveis de outra forma.
Por outro lado, tem aqueles que acreditam que a utilização da IA na construção musical é uma ameaça à criatividade e originalidade humana. Alguns argumentam que a IA é apenas capaz de produzir música baseada em fórmulas e padrões preexistentes, e que isso limita a possibilidade de inovação e experimentação.
E a preocupação sobre os direitos autorais é o principal argumento dos detratores das músicas criadas por IA. Esse tipo de composição deve ser considerada uma propriedade de seus criadores ou das empresas que desenvolveram as tecnologias?
E qual será a participação nos lucros dos artistas que “inspiraram” essas criações virtuais? Afinal de contas, existem algumas leis que protegem o direito de imagem e propriedade intelectual de um artista, e isso está muito bem definido. Mas… e quanto ao seu registro de voz, timbre e características de canto? Qual é a patente disso? Seria uma violação de direitos de alguma forma?
Independentemente de qual lado do debate você está, é inegável que a utilização de IA na música é um fenômeno crescente que está transformando a indústria fonográfica, e não tem como parar esse movimento. Tal e como outras inovações tecnológicas que apareceram com o avanço da humanidade, não podemos simplesmente deixar de lado a ajuda da Inteligência Artificial para agilizar o processo de criação de qualquer tipo de ferramenta e conteúdo.
E o mundo da música não vai passar ileso dos impactos dessa tecnologia.
Porém, é importante que as questões éticas e legais em torno do uso da IA na música sejam abordadas de maneira adequada, para garantir que os direitos dos criadores de música sejam protegidos e que a criatividade humana continue a prosperar.
Tudo isso naturalmente levanta a questão final desse artigo: como a música será criada no futuro?
A IA pode ajudar a produzir músicas inovadoras e de qualidade, mas… será que essa tecnologia será poderosa ou sensível o suficiente para substituir compositores, deixando músicos obsoletos?
De qualquer forma, indústria da música terá que lidar com essas questões, e encontrar um equilíbrio entre o uso da tecnologia e a valorização dos artistas. E isso é algo perfeitamente possível: todos os recursos eletrônicos adicionados até hoje não substituíram por completo a interferência humana na criação musical.
Só melhorou e agilizou drasticamente todo o processo, elevando a qualidade como um todo.