Fim de uma era.
A partir de 28 de fevereiro de 2025, os canais da Disney presentes na TV paga (Star Channel, Cinecanal, FX, National Geographic, Disney Channel e Baby TV) serão descontinuados.
A decisão é parte de sua estratégia de otimizar custos e maximizar lucros. É uma estratégia de mercado ousada e agressiva, mas que se alinha com o entendimento de que o modelo de negócio de TV por assinatura ou TV a cabo tradicional está com os dias contados.
A decisão é global. Outros países também estão perdendo esses canais. E a partir de março de 2025, apenas os canais ESPN continuarão ativos nas operadoras de TV paga…
…por enquanto.
Sinal dos tempos
O Disney+ vai mal das pernas no Brasil. E não é para menos: a Disney fez tudo o que era possível para o serviço de streaming dar errado por aqui.
Preços elevados, segmentação de conteúdos, fim do compartilhamento de contas, degradação da experiência de uso, fim da gratuidade via Meli+… a sequência de acontecimentos explica com facilidade o cenário de momento do Disney+.
A Disney justificou o fim dos canais na TV paga como uma resposta às transformações do setor de mídia e entretenimento, buscando atender às demandas dos consumidores com maior agilidade.
Não é uma decisão repentina. Desde 2022, a Disney está saindo da TV por assinatura tradicional. Naquele ano, a empresa encerrou os canais Nat Geo Wild e Disney XD na América Latina.
As mudanças que deram errado
A reestruturação do Disney+, que absorveu o Star+ no começo de 2024, resultou em uma plataforma de streaming que rapidamente se posicionou como uma das mais caras do mercado, oferecendo dois planos:
- Padrão: R$ 43,90/mês ou R$ 368,90/ano.
- Premium: R$ 62,90/mês ou R$ 527,90/ano, com melhor definição e mais transmissões simultâneas.
No meio do caminho, a Disney lançou promoções como descontos em pré-vendas, degustações gratuitas e planos casados com o Globoplay. Ao mesmo tempo, intensificou o combate ao compartilhamento de senhas e logins, buscando aumentar o número de assinantes.
Mesmo contando agora com conteúdos da Marvel, Star Wars, Nat Geo a antiga Fox, Os Simpsos e vários outros filmes e séries de qualidade, a popularidade do Disney+ caiu, já que o preço sempre manda no final.
Dados mostram que o Disney+ detém apenas 13% do mercado brasileiro de streaming, atrás de Netflix (27%), Prime Video (18%) e Max.
Um problema crescente para o Disney+ é a adesão temporária: os usuários assinam apenas para assistir a lançamentos específicos e cancelam em seguida, mostrando que o modelo de negócio do streaming está desgastado, e o que o consumidor realmente quer é variedade com preço justo.
O mercado de streaming em crise global
A Disney tem no Disney+ um enorme problema a administrar. O que consola o Mickey Mouse neste momento é que ele não está sozinho nessa crise.
Todo o mercado de streaming está com previsão de quedas globais de audiência. E a tendência é essa fuga de assinantes aumentar conforme vamos nos afastando do cenário de pandemia e isolamento social de 2020.
Apesar de 122,7 milhões de assinantes no mundo, o Disney+ está longe de atingir a lucratividade necessária para sustentar investimentos bilionários.
E mesmo com todo o conteúdo que já possui, o serviço de streaming da Disney não conta com conteúdos relevantes para um contexto de momento.
Quero dizer, não há grandes filmes e séries estreando ao longo do ano, tal e como acontece na Netflix, no Max e no Prime Video.
O fim de uma era
Posso dizer que vi o Disney Channel nascer no Brasil em 2001. Eu era assinante da finada DirecTV e, na época, o canal só liberava o seu conteúdo durante os finais de semana, como uma alternativa para o público infantil e juvenil que passava a semana estudando.
Hoje, vejo que realmente preciso abandonar o passado. DirecTV e, agora, Disney Channel deixam de existir, mostrando que o mundo segue em transformação constante, em um caminho sem volta.
Me arrisco a dizer que os canais ESPN ainda estão na TV por assinatura porque são (obviamente) os mais lucrativos (considerando o valor que cada assinante paga), já que esportes ainda dá muita audiência.
Mas também são os canais mais caros para serem produzidos.
Direitos de transmissão nos esportes custam muito dinheiro, e produzir a transmissão de um Monday Night Football ou das finais da NBA também.
Não será surpresa se, em algum momento no futuro, a ESPN também se retirar da TV paga, algo que a Disney nos EUA também ensaia em fazer.
Não podemos nos esquecer que a ESPN já tem streaming próprio lá fora, e está prestes a estrear a “joint veture” envolvendo os canais esportivos da Warner Bros. Disvovery e da Fox.
E quando a ESPN sair da TV por assinatura… aí sim, podemos declarar que é o fim de um formato que acreditou que era hegemônico, mas não acompanhou a evolução tecnológica.
Com o encerramento dos canais lineares e foco no streaming, a Disney aposta na digitalização como sua principal estratégia para manter relevância.
É fato que o Disney Channel é um esquecido hoje. Para a Disney, é muito mais lucrativo forçar todos a migrarem para o Disney+.
Mas não deixa de ser um desaparecimento que deixa uma sensação estranha em quem viu este canal nascer.
Via Canaltech