Aconteceu o que muitos davam como algo impossível: o Disney+ ocupou o trono que antes pertencia à Netflix, e é considerado neste momento o serviço de streaming que entrega a pior relação custo-benefício no mercado.
E isso acontece mesmo com todo o volume de conteúdo que a plataforma possui. O acervo é gigantesco em filmes, séries de TV, realitys e eventos esportivos. Mesmo assim, pagar R$ 62,90 por mês para ter tudo isso não vale a pena para a maioria dos usuários.
Como o Disney+ chegou a esse ponto? Ou será que nunca saiu desse lugar desconfortável?
Disney+ sempre foi caro no Brasil
Existe a percepção objetiva de que a Netflix foi aumentando os seus preços de forma escalonada, o que espantou muitos usuários da plataforma.
Porém, a mesma Netflix fez isso ao longo de 10 anos, indo contra convicções como “amamos o compartilhamento” e degradando o serviço aos poucos.
Já o Disney+ fez isso rapidamente, e mesmo para quem pagava o finado Combo+ (Disney+ com Star+), a impressão era que o serviço já era considerado caro em comparação com outras plataformas.
O Disney+ sempre foi mais caro que os outros serviços, mas muitos de nós davam aquela “passada de pano” porque, afinal de contas, era a Disney.
O acervo era enorme, e as franquias eram muito desejadas por muitas pessoas. Sem falar na exclusividade de conteúdos da Marvel e de Star Wars, que motivava a assinatura dos adultos.
Por isso, o escalonar de preços do Disney+ foi considerado inaceitável por muitos. Não dava para assumir a ideia de pagar o preço que for para assistir série ruim da Marvel Studios.
E usar a ESPN como moeda de troca para aumentar o ticket médio de assinatura passa bem longe de ser uma estratégia inteligente.
Mesmo porque dá para assinar um serviço de TV via streaming e pagar mais ou menos a mesma coisa que o Disney+. Problema resolvido.
Mas… a última pá de cal foi mesmo a virada gigantesca na proposta do Meli+.
E agora, o Meli+ não serve nem para frete grátis
Era de conhecimento público que a grande maioria dos assinantes do finado Combo+ tinha o serviço através do Meli+, o plano de vantagens do Mercado Livre.
Essa iniciativa criava uma espécie de “efeito cascata”, já que muitas pessoas passaram a comprar mais no Mercado Livre para (inclusive) justificar o pagamento do plano.
Sem falar naqueles que decidiram assinar o Max e o Paramount+ com 30% de desconto, já que toda redução de preço em serviços de streaming vale a pena.
Acontece que o mesmo Meli+, que começou custando R$ 9,99 (quando ainda estava no sistema de níveis do Mercado Livre), saltou para R$ 17,99 antes do fim do Star+ e, em pouco tempo, já custa R$ 27,99 mensais, um mês depois do novo Disney+ se tornar o serviço definitivo da Disney.
Coincidência? Estou duvidando.
Ter como opção menos cara um Disney+ Básico com Anúncios a R$ 27,99 por mês é algo simplesmente inaceitável.
É um serviço degradado, com menor qualidade de imagem, menos telas simultâneas e restrição de conteúdo esportivo.
Antes, você tinha o serviço mais completo por um preço competitivo.
Qualquer brasileiro com uma calculadora na mão fez as contas e entendeu que estava pagando mais para ter menos.
Será que só a Disney não se deu conta de que isso iria acontecer?
Eu duvido.
A Disney vai mudar de ideia?
Duvido disso também.
Estamos falando de uma empresa que realmente acredita ter o melhor volume concentrado de conteúdo de entretenimento e esportes.
Não que não seja. De fato, o acervo do Disney+ é um dos mais completos.
Porém, também está ficando cada vez mais claro que o brasileiro não está disposto a pagar o que for para receber esse acervo em casa.
Além da concorrência formal, onde plataformas como Amazon Prime Video, Globoplay e até mesmo o Max podem se dar bem com isso, o Disney+ não se deu conta que as tais “plataformas alternativas” também estão disponíveis.
A briga de “gato e rato” que Hollywood trava há pelo menos 30 anos com os conteúdos considerados ilegais continua, e acredito que as gigantes do entretenimento estão mais longe de vencer essa guerra.
A tecnologia sempre está na frente. Ou melhor, um passo na frente de Hollywood.
As mudanças adotadas pelo Disney+ foram tão estúpidas, que o grande público já entendeu que pode viver muito bem sem os conteúdos que fazem parte de sua história de vida.
Pois não vale pagar tão caro assim pela nostalgia.
Em alguns casos, é melhor olhar para frente e abraçar o novo.
Não creio que a Disney será capaz de abraçar o novo neste caso. E quem sabe quando a conta parar de fechar de vez para Bob Iger é que alguma mudança vai acontecer neste aspecto.
Até lá, a Netflix perde o trono de carrasca, e segue lucrando com o Plano Básico com Anúncios a “apenas” R$ 20,90 por mês.
Mas sem capar conteúdos dos assinantes (ou melhor, capando apenas 3% do seu acervo).