Samsung e Apple sempre foram rivais muito acirradas, principalmente depois que os sul-coreanos decidiram mexer na nova gaveta dos norte-americanos ao entrar no mercado de smartphones.
O ponto aqui é que tanto Apple como Samsung decidiram rivalizar no nível de babaquice de suas campanhas publicitárias. Ou para provocar a maior polêmica possível para algo completamente inútil.
Eu não me incomodei com o comercial “Crush!” da Apple, pois me julgo inteligente o suficiente para entender o recado. Mas vou me colocar no lugar de quem ficou irritado com a metafórica destruição da arte para mostrar que o “UnCrush!” da Samsung tem ainda menos sentido.
Departamento de marketing formado pelo Pinky e o Cérebro
Vocês sabem muito bem o que aconteceu. Por isso, não preciso esticar muito a história.
A Apple fez o comercial “Crush!” para promover o lançamento do iPad Pro (2024), dando a entender que toda a criatividade e entretenimento do mundo pode caber no dispositivo mais fino da história da empresa.
Mas comprimir toda a arte do mundo pode ser interpretado (também) como um ataque à criatividade, já que prensas hidráulicas destroem as coisas que estão embaixo dela.
De novo: eu consegui interpretar como “compactação ou compressão” e não como destruição. Mas não vou julgar quem pensa diferente de mim. Até porque essa galera que reclamou conseguiu o impossível: fazer a Apple pedir desculpas por alguma coisa.
Aí vem a dona Samsung para capitalizar em cima do erro da coleguinha, e lança o “UnCrush!” para promover o Galaxy Tab S9. Neste comercial, os destroços do “Crush!” são desfeitos para permitir que uma musicista tocasse um violão quebrado.
A ideia aqui é mostrar que a criatividade persiste. Literalmente, a Samsung coloca na legenda “A criatividade não pode ser esmagada”, em clara cutucada na Apple.
A Samsung fez um bom movimento em utilizar a polêmica da Apple para promover o seu produto. Mas… a questão não é bem essa.
“Crush!” ou “UnCrush!”… o problema não é esse
A crítica para a campanha da Apple (e também para a campanha da Samsung, em partes) vai além da destruição da criatividade. Ela tem algumas camadas adicionais que precisam ser mencionadas.
A Apple tentou explicar que você pode ter todos os componentes criativos e de entretenimento no iPad, dispensando a necessidade de o usuário ter esses itens para ser criativo. Por outro lado, muitos artistas estão reclamando do excesso da interferência da tecnologia para o processo criativo.
O que é um fato consumado. Artistas que usam e abusam de recursos eletrônicos para acertarem as notas, composições e arranjos desenvolvidos por inteligências artificiais, softwares que emulam instrumentos e as deepfakes que podem induzir o coletivo ao erro de acreditar no resultado genuíno da canção.
Existe um debate neste momento que fala sobre esse excesso da interferência da tecnologia nos processos criativos. E de forma indireta ou não intencional, o comercial da Apple pode sim ser um recado que remete à esse desaparecimento de artistas e mentes criativas.
E a resposta da Samsung não convenceu a muitas pessoas, pois da mesma forma que a Apple e outras gigantes do setor, ela usou toda a polêmica para vender uma tecnologia que pode sim acabar com os músicos e usuários mais criativos.
Logo, mesmo não concordando com a perspectiva da polêmica, procuro compreender as motivações para o debate.
De fato, a criatividade deve prevalecer
A impressão que fica é que as gigantes do mundo da tecnologia não querem que a criatividade genuína, tal e como a humanidade sempre conheceu, prevaleça.
O excesso de tecnologia e os recursos de inteligência artificial são, por enquanto, grandes inimigas do processo criativo e da promoção de arte como sempre conhecemos.
É só você pensar em como gravadoras e grandes estúdios de Hollywood estão desesperados para usar em larga escala o ChatGPT para substituir roteiristas, produtores e até atores em determinadas situações.
Para quem trabalha com arte, se inspira durante o processo de escrita de textos ou de desenvolvimento de músicas, a tecnologia está matando essa mecânica que é parte intrínseca da experiência humana. É ferramenta de nossa evolução.
Ou seja, “Crush!” ou “UnCrush!”… isso é irrelevante. A polêmica neste caso é por uma causa maior.
A Apple poderia ter resolvido o problema colocando crianças e adolescentes para usar o iPad e mandar aquele textão maroto sobre criatividade E produtividade, já que é isso o que os novos iPads realmente queriam promover.
E nem posso culpar a maioria das pessoas em constatar que o que a Apple fez foi uma heresia. Pelo contrário: preciso agradecer a quem enxergou para tudo isso e decidiu pelo menos reclamar da propaganda.