Lidamos com os vírus de computador desde sempre, e testemunhamos o seu avanço para os smartphones com uma passividade quase inacreditável. Hoje, quase ninguém usa um software antivírus no telefone porque muitos de nós nos convencemos de que esse tipo de recurso não era necessário no telefone.
Como somos estúpidos, francamente…
A boa notícia é que nem todos os vírus lançados na história contavam com a finalidade de roubar dados ou destruir equipamentos. Alguns deles foram utilizados de forma humorística entre especialistas em informática, tal e como aconteceu com os protagonistas deste artigo.
E desenvolver um vírus para fazer piada com os amigos é algo que deveria ser direito de qualquer especialista em programação.
Uma piada em forma de vírus que tem mais de 40 anos
O protagonista de nossa história é o programador Rich Skrenta, no auge dos seus 15 anos de idade, que estava sem ter o que fazer na vida em 1982, e desenvolveu o vírus Elk Cloner, voltado para atacar os (então) populares Apple II.
Isso mesmo, amigo leitor: um computador da Apple, e não um IBM PC. E mais uma vez temos uma evidência que derruba o mito do “os computadores da Apple não contam com vírus, e são os mais seguros do mundo”.
Essa é uma meia verdade que muitos de vocês não estão preparados para aceitar.
O Elk Cloner se espalhou através de disquetes, e tinha como efeito prático modificar a tela inicial do equipamento com um poema inofensivo. Ele não destruía dados, mas poderia causar surpresa para os mais desavisados.
Mesmo porque o usuário do computador Apple simplesmente ligava o equipamento, e se deparava com o seguinte texto:
Elk Cloner
O programa com personalidade.
Ele alcançará todos os seus disquetes.
Ele vai se infiltrar em suas fichas.
Sim, é Cloner!
Ele vai grudar em você como cola.
Ele também modificará a RAM
Comande o clonador!
O vírus era ativado ao inicializar o sistema operacional e instalado na memória do sistema. Sua propagação era automática quando o usuário inseria um disquete “limpo” no equipamento contaminado, criando uma cadeia de infecções.
E como não existia a cultura de desenvolvimento de antivírus na época, o Elk Cloner se espalhou de forma considerável nos computadores Apple da época.
Dá até para imaginar que as pessoas queriam ser contaminadas por ele, pois a piada era minimamente divertida. Mesmo assim, ainda era um vírus, e precisava ser solucionado em algum momento.
Como resolveram o “problema” com o Elk Cloner
Todo mundo achou o Elk Cloner divertido e entendeu a piada. Por outro lado, muitos ficaram preocupados com a vulnerabilidade presente no sistema Apple DOS 3.3 instalado nos equipamentos da Apple, e isso despertou preocupações em muitos usuários e especialistas.
É só parar para pensar um pouco.
Se uma mente mais maliciosa usa essa vulnerabilidade com fins destrutivos, o estrago nos equipamentos Apple II seria enorme. E alguma coisa precisava ser feita antes que o pior acontecesse.
A própria Apple começou a trabalhar de forma intensa em um dos primeiros programas antivírus da história para bloquear a brecha de segurança deixada pelo Elk Cloner, o que iniciou de forma efetiva a cultura de proteção de equipamentos informáticos via software.
Skrenta expressou surpresa pela fama do vírus me sue blog pessoal:
“Eu programei muitas coisas para o Apple II […] E o hack mais estúpido que já escrevi gerou mais interesse, até hoje.”
Podemos dizer que Rich não fez pouco com o desenvolvimento desse vírus. Afinal de contas, quantas pessoas são lembradas por um software “inofensivo” desenvolvido há mais de 40 anos?
Não deixa de ser um importante capítulo do mundo da tecnologia, a ponto de ser mencionado até hoje pelos principais sites (como é o meu).