Bastou o Google ir para os tribunais e ser considerado um monopólio, que a dona Apple já planeja a facada pelas costas.
A Apple está redesenhando o Safari para priorizar mecanismos de pesquisa baseados em inteligência artificial, conforme revelado por Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da empresa.
A mudança acontece em um momento em que a Apple registrou pela primeira vez uma queda nas pesquisas realizadas através do Safari.
A empresa se deu conta de algo que todos nós já percebemos que está acontecendo: todo mundo está migrando para ferramentas de inteligência artificial na hora de pesquisar qualquer coisa.
Mas como existem questões legais no movimento, entendo que é melhor explicar direito o que está acontecendo aqui.
Ninguém gosta do “te vejo nos tribunais”
Teve um tempo em que Apple e Google estavam bem parceiras, onde uma protegia a outra em um certo caso antitruste.
Mas nem mesmo admitir que a gigante de Mountain View paga US$ 20 bilhões para a gigante de Redmond só para manter o Google como mecanismo de busca padrão dos sistemas Apple fez com que Tim Cook e sua turma buscassem planos alternativos.
A mudança está diretamente relacionada à essa narrativa legal. O Google foi considerado culpado de violar as leis de concorrência em agosto de 2024 por meio de acordos exclusivos para ser o mecanismo de busca padrão em várias plataformas.
Um desses acordos é o bilionário com a Apple.
Agora, esse contrato enfrenta incertezas jurídicas, e como a Apple pode nesse movimento resolver as questões legais mais urgentes, a Apple iniciou esse projeto de modificação no Safari.
Mesmo porque, se no futuro a Apple realmente ficar sem esse dinheiro do Google, ao menos é mais fácil seguir sozinha do que ter que dividir a responsabilidade pelos esquemas meio errados de Mountain View.
In IA we trust
Eddie Cue acredita que as empresas que trabalham hoje com plataformas de inteligência artificial (OpenAI, Perplexity, Anthropic, etc) devem eventualmente substituir os mecanismos tradicionais de busca no futuro.
De novo: isso já está acontecendo, e coloca o futuro do Google como mecanismo de busca diretamente em risco.
A Apple já demonstra movimentos nessa direção ao integrar o ChatGPT às funcionalidades da Siri e planejar a adição do Google Gemini ainda este ano.
Mesmo reconhecendo que as atuais ferramentas de IA ainda precisam aprimorar seus índices de pesquisa e qualidade dos resultados, Cue acredita que suas funcionalidades superiores atrairão os usuários para esta transição tecnológica.
Enquanto isso, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos propôs diversas medidas para resolver o caso antitruste contra o Google, incluindo medidas drásticas como forçar a venda do navegador Chrome, limitar os pagamentos por posicionamento padrão nos mecanismos de busca, impedir o favorecimento de produtos próprios nos resultados e aumentar a transparência nas práticas publicitárias.
O Google disse NÃO para tudo isso. Classificou a proposta do DOJ dos Estados Unidos como “agenda intervencionista radical”, e sugeriu alternativas menos invasivas, como permitir que navegadores gerenciem múltiplos mecanismos de busca e dar mais liberdade aos fabricantes de dispositivos sobre as opções de pesquisa pré-carregadas.
No meio do caminho, veio essa novidade de possível reconfiguração do Safari, que deve sim abraçar as tecnologias de IA.
Qual é o grande problema disso tudo?
O único grande problema é que o conteúdo não será mais visto no site, mas sim pela plataforma de inteligência artificial. E isso quebra as minhas pernas como produtor de conteúdo.
Ninguém clica mais em links de notícias. aliás, comentam apenas pelo título, trailer ou cartaz.
O impacto da medida de colocar um chatbot no navegador Safari será de vários sites simplesmente fecharem as portas, pois os acessos e faturamento se tornaram inviáveis a médio e longo prazos.
Fora isso, não tenho problema algum com o ChatGPT dando as respostas nas pesquisas.
Desde que isso não acabe com o meu site e com boa parte do marketing digital nos próximos anos.
Via Bloomberg