O jornalismo tradicional, os sites independentes (como é o caso do TargetHD.net) e a produção de conteúdo tradicional está sob séria ameaça. Este site pode sim desaparecer a qualquer momento.
E quem pode promover o desaparecimento do jornalismo no mundo é o Google. Literalmente.
O novo recurso que gera respostas automáticas via Gemini nos resultados do buscador da gigante de Mountain View está promovendo um estrago gigantesco no jornalismo tradicional e independente.
E a política que o Google estabeleceu para treinar a sua IA e, ao mesmo tempo, acabar com o acesso aos conteúdos em sites chega a ser algo perverso.
Google criou uma crise no jornalismo
O modelo de negócios do Google, que utiliza fragmentos de notícias ao entregar respostas geradas por Inteligência Artificial no topo dos resultados em suas plataformas de busca, está literalmente destruindo a receita de publicidade em grandes sites, jornais e blogs independentes.
Muitos usuários consomem apenas os resumos de respostas apresentados pelo Google, sem clicar nos links para acessar o conteúdo completo.
E sem o acesso aos sites e blogs, a queda em publicidade é sentida por todos os tipos de veículos de jornalismo. Sem exceção.
O TargetHD.net está com enormes dificuldades para manter as suas atividades. Hoje, os ganhos em publicidade gerado pelas visitas não paga sequer os custos de servidor do blog.
O cenário que o Google criou agravou ainda mais uma crise financeira que já afetava o setor de jornalismo antes da chegada da IA.
Antes, as pessoas já não se informavam pelos sites de notícias. As redes sociais e os comunicadores instantâneos se consolidaram como principais fontes de informação do grande público.
Agora, com o Google desprestigiando os links de notícias em seu buscador, o fim do jornalismo, tal e como conhecemos, pode estar sacramentado se algo não mudar de forma drástica.
A luz do fim no túnel (que eventualmente pode não ser o trem vindo na direção contrária) está nos esforços de alguns países que tentam legislar em favor do jornalismo e da produção de conteúdo profissional e independente.
Exemplos de regulamentação internacional
Países como Austrália e Canadá estão implementando regulamentações que obrigam as gigantes da tecnologia a pagarem por conteúdo jornalístico utilizado por suas plataformas de Inteligência Artificial.
No Canadá, por exemplo, foi aprovado um fundo que requer uma contribuição anual de empresas como o Google para o financiamento do jornalismo.
A Austrália também tentou uma abordagem semelhante, mas cedeu após pressão dos lobbies das grandes empresas de tecnologia.
E como bem sabemos que as Big Techs estão alinhadas com governos, bancos e outras forças poderosas do mercado, o cenário para a proteção do jornalismo é cada vez menos promissor.
É um processo de estrangulamento e asfixia que gera reflexos nas mais diferentes esferas da profissão.
De qualquer forma, tais regulamentações podem eventualmente moldar o futuro da mídia em diferentes regiões do planeta. Para o bem, ou para o mal.
O caso da Califórnia é peculiar.
Na Califórnia, foi feito um acordo entre o estado e o Google, que envolve a criação de um fundo de 110 milhões de dólares para apoiar o jornalismo local.
Esse dinheiro será gerenciado pela Universidade de Berkeley, e os mais desavisados podem achar que a decisão é benéfica para o setor de jornalismo.
Não é bem assim.
Muitos jornalistas consideram esse acordo insuficiente, pois ele não estabelece uma contribuição contínua e regular, o que é algo essencial para a sustentabilidade a longo prazo do setor.
Além disso, parte dos fundos será direcionada para a pesquisa em Inteligência Artificial. Ou seja, investimentos para aquilo que já é visto como uma ameaça adicional ao emprego no setor jornalístico.
Sem falar que em nenhum momento é discutida a pauta dos limites de uso da Inteligência Artificial no jornalismo, o que pode resultar na eliminação do profissional humano no processo de produção de conteúdo no futuro.
São basicamente as mesmas bases que os roteiristas e atores em Hollywood utilizaram para a última grande greve das duas categorias nos Estados Unidos.
E se os profissionais do jornalismo não se mobilizarem (e rápido), o fim da categoria certamente vai acontecer no futuro.
Afinal de contas, com os chatbots avançando cada vez mais na capacidade de escrita, o elemento humano para a produção das chamadas “hard news” (ou notícias não opinativas) será totalmente descartado.
Não podemos negar o novo, mas…
Ninguém está pregando a demonização da Inteligência Artificial.
O avanço da tecnologia é inevitável, e precisamos trabalhar com ela a nosso favor. Não nego que uso a IA para produzir os conteúdos para os meus blogs e canais de vídeos, mas tento não ser escravo dela.
Sempre coloco a minha personalidade e opinião nos meus conteúdos, pois sei que os leitores e a minha audiência me procuram porque, de alguma forma, se identifica com a minha visão de mundo.
E o grande problema não está na tecnologia em si, mas em como ela é utilizada de forma inescrupulosa por quem tem um poder muito maior que o meu ou de outros produtores de conteúdo.
Com o desenvolvimento de modelos de IA como o Google Gemini, a situação se agrava de forma drástica. Afinal de contas, estamos falando do Google.
A IA agora pode gerar respostas a partir de múltiplas fontes, reduzindo ainda mais a necessidade de os usuários visitarem sites de notícias.
Na prática, o conteúdo original é totalmente desvalorizado pelo Google, colocando em sério risco a sobrevivência dos veículos que dependem de cliques para gerar receita.
De novo: o TargetHD.net pode fechar as portas em breve.
A Inteligência Artificial está intensificando a crise no jornalismo quando elimina a necessidade do usuário em interagir com os sites originais.
E a parte mais absurda de tudo isso: o Google não paga UM CENTAVO SEQUER para usar o conteúdo produzido por jornalistas para entregar as respostas automáticas no Gemini.
É uma queda de braço injusta. Todo mundo merecia receber pelo trabalho realizado e também quando terceiros usam o nosso trabalho para lucrar.
Certo?
Bom… tem produtor de conteúdo aqui no Brasil que não concorda com isso.
Fica o registro: há 10 anos atrás, alguns países já questionavam a dominância do Google nos serviços de buscas na internet, principalmente no uso inescrupuloso dessa dominância para impor as regras de indexação de links.
Em resposta, o Google decidiu remover o Google News de alguns mercados que já tentavam cobrar da gigante de Mountain View pelo uso de conteúdos produzidos por pessoas que trabalharam por horas para escrever as notícias que alimentavam a plataforma.
E o que alguns produtores de conteúdo no Brasil fizeram?
De forma estúpida e imbecil, deram razão para o Google!
Parece que o jogo virou, não é mesmo?
Com a IA, está todo mundo (com todo o respeito, e peço desculpas pelo uso da expressão) na merda hoje.
Consequência direta do monopólio do Google
Devido à posição dominante do Google no mercado de buscas, os sites enfrentam uma escolha difícil e até cruel, imposta por uma empresa que tinha como lema “Don’t Be Evil”:
- Ou você permite que o Google use o seu conteúdo, correndo o risco de se tornar irrelevante ao sair do principal serviço de buscas da internet;
- Ou você se recusa a participar da coleta de dados da IA do Google e sofre as consequências da invisibilidade online.
O Google conseguiu estabelecer uma crise existencial para muitos produtores de conteúdo, que precisam decidir entre a sobrevivência imediata ou a morte lenta e inevitável de suas operações.
É o meu caso, neste exato momento.
Não sei se escrevo conteúdos curtos com títulos apelativos apenas e tão somente para garantir os cliques e as visitas, ou se produzo o conteúdo mais longo para garantir a retenção pela leitura (que é a principal métrica para pagamento de publicidade no Google neste momento), mesmo sabendo que boa parte do público não lê mais nada na internet.
Essa dinâmica monopolista do Google é uma das maiores ameaças à diversidade e à sustentabilidade do ecossistema digital.
Aliás, é importante lembrar que, nos aspectos jurídicos, o Google foi considerado um monopólio pela justiça norte-americana.
E essa decisão pode criar o precedente que, eventualmente, pode colocar um freio na gigante de Mountain View, garantindo uma sobrevida ao jornalismo.
Sobrevida. Não a sobrevivência.
O futuro do jornalismo
Sendo bem realista?
Estamos condenados à morte.
O declínio da qualidade jornalística tem consequências diretas para a sociedade, e o coletivo não se dá conta disso.
Ou melhor… não se importa.
Hoje, a grande massa da sociedade (que não é crítica, muito menos racional) prefere formar sua opinião a partir de recortes e distorções de narrativa. E nem se dá conta disso.
O fácil acesso à “informação” tem como consequência direta a ascensão de produtores de conteúdo e influenciadores irresponsáveis, que se valem da ignorância coletiva para distorcer fatos e narrativas.
A ausência do jornalismo sério e comprometido com os fatos pode resultar na ruptura do coletivo com a realidade dos fatos.
E construir o jornalismo sério e de qualidade dá muito trabalho.
Com redações cada vez menores e jornalistas sobrecarregados, a capacidade de investigação e cobertura de temas importantes está se deteriorando.
A ausência de um jornalismo robusto enfraquece a fiscalização das autoridades, a defesa dos direitos civis e a luta contra injustiças, deixando a sociedade desamparada e, muitas vezes, inconsciente de seu próprio desamparo.
Sem um suporte financeiro adequado, a situação só tende a piorar, levando a uma espiral descendente na qualidade da informação disponível.
Se o TargetHD.net fechar as portas em um futuro próximo, você agora sabe quais são os motivos.
E se você se importa o suficiente com isso, ajude o site a se manter no ar.