A China decidiu pisar o pé no acelerador em seu processo de implementação do DeepSeek, seu modelo de Inteligência Artificial (IA) de código aberto, abrangendo tanto o setor público quanto o privado.
A integração do DeepSeek em diversas cidades e empresas estratégicas, como a BYD e a Nissan, ilustra a rápida disseminação dessa tecnologia no país. Isso reforça a confiança na IA, como também acelera o processo de independência dos chatbots ocidentais.
É um movimento pensado, e faz parte da guerra comercial que a China decidiu comprar com os EUA nesse segmento. Abraçar o DeepSeek neste momento pode ser o principal ato de sobrevivência da plataforma, construindo uma credibilidade que ela (ainda) não tem.
Relevância da adoção do DeepSeek
A velocidade com que o DeepSeek está sendo adotado na China deixa claro duas coisas:
- a escalabilidade de modelos de código aberto
- e a capacidade do sistema chinês de implementar avanços tecnológicos de forma ágil, sem as barreiras burocráticas frequentemente encontradas em democracias ocidentais.
O primeiro ponto é bem óbvio, pois no mundo da tecnologia, qualquer plataforma de código aberto pode ser adotada mais rápido que as plataformas dedicadas.
E aqui, os chineses dão um “tapa na cara” dos ocidentais, pois oferece “de graça” seus recursos para que empresas norte-americanas possam utilizá-los sem maiores problemas.
O segundo ponto está intrinsecamente ligada ao sistema de partido único vigente na China, o que acelera o processo porque basicamente não existe o contraditório na visão política do país.
Casos de implementação e os seus resultados
A cidade de Guangzhou foi pioneira na integração do DeepSeek em sua rede governamental, obtendo resultados notáveis, como a redução do tempo de espera para chamadas de cidadãos em 43% e uma precisão de 97% na gestão de consultas.
O sistema também agilizou o acesso a informações sobre políticas públicas e o processamento de documentos oficiais.
Na Mongólia Interior, a capital Hohhot implementou o DeepSeek R1 em sua extranet governamental, com planos de expandir seu uso para diversas finalidades, incluindo a análise de dados multimodais.
Outros seis governos municipais chineses também anunciaram a integração do DeepSeek, com cidades como Zhengzhou e Dalian promovendo treinamentos em IA para seus funcionários e empresas.
Contraponto com o Ocidente
A rápida adoção do DeepSeek na China contrasta com a postura mais cautelosa e lenta do Ocidente em relação à IA no setor público.
Enquanto a Europa prioriza a criação de estruturas regulatórias, a China utiliza seu sistema centralizado para acelerar a transformação de sua burocracia, buscando maior eficiência.
No Brasil, ainda estamos engatinhando.
Nossos gestores públicos não avançam na discussão de regulação sobre o uso da inteligência artificial, e algumas iniciativas residuais começam a apostar em chatbots, mas de forma muito tímida.
E esse comportamento já começa a ter contornos de erro patético, pois está mais do que claro que o uso da IA nos diferentes setores da sociedade é o futuro inevitável.
Implicações, reflexões e considerações
O sucesso da implementação do DeepSeek na China poderá demonstrar que a velocidade de adoção de novas tecnologias pode ser tão ou mais relevante do que a própria inovação.
Em alguns casos, a pressa é inimiga da perfeição. E fica a pergunta: será que os chineses conhecem esse ditado?
A China demonstra a capacidade de converter seu sistema de partido único em uma vantagem competitiva no campo da IA.
Enquanto adotam rapidamente o DeepSeek em suas estruturas, consolidam lentamente a sua existência, aumentando e validando sua relevância para um uso prático.
É importante ressaltar que a implementação do DeepSeek na China levanta questões sobre privacidade e controle de dados, considerando justamente a formatação política do país.
Por outro lado, o case de uso em massa do chatbot chinês em suas estruturas oferece insights valiosos sobre a importância da agilidade na adoção de tecnologias de IA e seus impactos na sociedade.
Quem sabe o Ocidente possa aprender alguma coisa com os chineses neste caso.
E, mais uma vez, o “Made in China” funciona muito bem.