Não é sempre que Florianópolis recebe um evento de tecnologia. Por isso, decidi me deslocar até o Campeche para prestigiar a décima edição do Retro SC, evento pensado nos colecionadores e amantes do mundo dos videogames do passado e do presente.
Esse é o tipo de evento que desperta a nostalgia de forma imediata nos participantes. Aliás, todo mundo que estava lá se encheu de sentimentos nostálgicos para prestigiar os expositores, conversar sobre o que viveu dentro desse segmento e até mesmo comprar alguns videogames daquele tempo para reviver aquilo que foi tão bom.
Neste artigo, vou compartilhar algumas das minhas impressões e registros durante o Retro SC Florianópolis 2022, que aconteceu no último dia 5 de novembro.
Nem só de passado vive um evento de videogames retrô
O espaço disponível para os expositores era mais que suficiente para abrigar diferentes propostas envolvendo o universo dos videogames. Lembrando que eu praticamente não encontrei consoles de nova geração no local. O mais próximo disso era uma unidade do Xbox One X à venda.
Mas nem tudo era sobre o passado dos videogames. Alguns se inspiraram no passado para criar algo novo no presente. Como é o caso do jogo Bruxólico, criado por um desenvolvedor de Florianópolis que tenta resgatar o folclore da ilha, como também homenagear Franklin Cascaes e Peninha (dois defensores dessas histórias regionais) a partir de novas narrativas para dar enredo ao jogo.
O resultado é um game de plataforma com estilo de jogo para consoles 8 bits que é bem interessante. Bom, sou suspeito para falar sobre isso, pois adoro jogos de plataforma.
Também vale a pena destacar as iniciativas de emulação dos consoles do passado. Um exemplo disso é o A500 Mini, um pequeno emulador do Amiga que está chegando ao Brasil via importação. Para quem gosta de nostalgia em estado puro, certamente vai se interessar em investir o seu dinheiro em um produto como esse.
Outro ponto curioso que também recebeu destaque no Retro SC é o dos ports e adaptações de jogos de diferentes plataformas para consoles de videogame específicos. Aqui, falo especificamente da capacidade do Mega Drive em rodar jogos que originalmente não foram feitos para ele. Dessa forma, finalmente o console da SEGA recebeu uma versão de Final Fight, o que certamente pode despertar a atenção de quem sempre quis jogar esse game neste videogame.
Os computadores clones que apareceram aos montes
Muito provavelmente os mais jovens não sabem disso, mas no passado (ou melhor, no meu tempo), não existia essa facilidade toda para comprar computadores e videogames.
O nefasto governo brasileiro (no final da ditadura militar) estabeleceu a estúpida lei de proteção à indústria nacional, o que impedia a chegada de fabricantes de eletrônicos importados no Brasil. Na época, as pessoas iam até o Paraguai para comprar de videocassetes a computadores, e isso fazia com que o acesso a esses produtos fosse algo exclusivo para uma parcela da população.
Alguns fabricantes nacionais perceberam que poderiam explorar esse segmento de mercado, e institucionalizaram uma espécie de pirataria que driblava as regras de protecionismo da indústria nacional. As marcas clonavam os projetos dos fabricantes originais, importavam os componentes em separado, montavam tudo aqui na Zona Franca de Manaus e comercializavam os produtos com outros nomes.
O esquema deu tão certo, que até a Nintendo tentou processar a Gradiente no Brasil, mas quando viu a robustez de tudo o que a empresa brasileira construiu para montar os videogames aqui, decidiram formar uma parceria que funcionou bem por algum tempo.
Foi dessa forma que muitos usuários de computadores das décadas de 1980 e 1990 conseguiram utilizar os equipamentos pela primeira vez. Caso contrário, isso seria virtualmente impossível. E reviver essa história é sempre algo muito fascinante.
Foi impressionante ver a quantidade de computadores clonados que chegaram ao nosso mercado, e que ajudaram a muitos dos pioneiros no uso da tecnologia no Brasil. Pequenos PCs com teclados integrados (com teclas por membrana ou pequenos botões físicos), que se conectavam com as TVs de tubo da época para atuar como processadores de texto, ferramentas de programação e até mesmo como videogames domésticos.
Raridades com o MSX e o Amiga estavam lá, em pleno funcionamento, para a alegria e deleite dos entusiastas do passado. Voltar nos tempos onde o mundo da computação era muito mais artesanal e intuitivo do que hoje é algo que preenche o coração de qualquer geek nostálgico como eu.
Muitos videogames do passado, é claro
Essa é a principal razão de um evento como o Retro SC existir.
Eu nem precisava dizer isso, mas… muitos e muitos videogames do passado estavam em exposição. Do Telejogo até o Xbox 360 e PlayStation 3, os produtos em exposição contavam diferentes capítulos dessa trajetória do universo gamer em nossas vidas, onde cada item em específico despertava um sentimento ou ativava uma memória importante da história dos presentes.
Os finais de semana alugando os jogos, os dias de jogatina nas lojas especializadas em videogames (que podemos chamar hoje de avós das lan houses e cyber cafés), as revistas que todos compravam para descobrir os macetes, o ritual de “assoprar a fita” para fazer o jogo funcionar (sem pensar que esse ato poderia oxidar o cartucho, mas era a nossa inocência da época) e todos os elementos que promovem uma viagem no tempo instantânea para quem curte o mundo dos games.
Porém, um item em especial fez com que eu quase viesse às lágrimas no evento.
Eu tenho uma história especial com o Supergame da CCE. Esse foi o primeiro videogame que tive na vida. O primeiro de todos. Eu passei anos da minha vida insistindo para os meus pais que queria ganhar de Natal um videogame, e fui claro no meu pedido: tinha que ser um Master System ou um Mega Drive.
Porém, eu vim de uma família com poucos recursos financeiros, e o videogame que eles poderiam comprar era justamente o Supergame da CCE. Hoje eu sei disso porque compreendo melhor a dinâmica financeira deles daquele tempo.
O problema é que eles compraram o tal videogame em junho, e decidiram esconder ele de mim até o Natal. E eu, cheio de pressa e curiosidade, descobri o esconderijo do presente antes deles.
Minha mãe chegou a chorar de desgosto, porque ela realmente gostaria de fazer uma surpresa para mim, e eu descobri o presente antes disso. No final, eu senti por ela ao compreender seu objetivo em esconder o videogame por tanto tempo.
Para compensar, aproveitei o videogame durante anos, por entender o valor do Atari e da importância afetiva que esse produto teve para mim. Reencontrar o Supergame da CCE na Retro SC foi uma das alegrias do meu dia.
Espero que tenha mais…
Eu sei que o evento está na sua décima edição, mas fico na torcida para que ele volte em 2023 ainda maior.
Existe um espaço para o crescimento do Retro SC, pois muitos fãs de videogames do passado certamente desejam resgatar esses consoles e jogos no presente. A prova disso foi a quantidade de negócios realizados que testemunhei no evento, com produtos sendo comercializados em profusão.
Fico na torcida para que o Retro SC ocupe um espaço ainda maior em Florianópolis em 2023. Podem contar comigo para prestigiar o evento do ano que vem. Mesmo porque eu sou o público-alvo desse tipo de iniciativa, pois já cheguei a uma idade onde me permito a ser nostálgico e, eventualmente, gastar algum dinheiro com isso.