O Departamento de Justiça (DOJ) dos Estados Unidos prepara uma recomendação para o juiz do caso antitruste contra o Google de venda do navegador Chrome e desmembramento do sistema operacional Android dos demais serviços da gigante de Mountain View.
A batalha anti-monopólio travada com a gigante de Mountain View deve ter um fim (que não deve ser definitivo, pois sempre existe uma Suprema Corte) até agosto de 2025, que é quando o juiz Amit Mehta deve apresentar o seu parecer sobre o caso.
Até lá, algumas perguntas precisam ser respondidas. Se o Google vai vender o Chrome e separar o Android de todo resto, outros elementos dessa problemática ficam com o futuro incerto.
E o Chrome OS?
É a primeira pergunta que precisa ser respondida.
O Chrome é o navegador web do Google, que pode ser instalado em diferentes dispositivos. Já o ChromeOS é o sistema operacional baseado nesse navegador, atuando como um software completo a ser instalado nos equipamentos.
Se o Google tiver que vender mesmo o Chrome, o que ele vai fazer com o ChromeOS?
Em junho de 2024, o Google anunciou que o ChromeOS adotaria uma nova abordagem interna dentro de sua filosofia de sistema operacional, e recentemente confirmou que está “trabalhando para migrar o Chrome OS para o Android”.
Na prática, o ChromeOS vai usar o kernel e as estruturas internas do Android, deixando o sistema operacional de computadores mais próximo do que temos nas internas do sistema operacional para smartphones.
Ou seja, se o Google realmente tiver que vender o Chrome, pode não ser obrigado a se desfazer do ChromeOS, mas terá que adotar as mesmas medidas de distanciamento que o Android deve passar, se afastando da Google Play e de outros serviços da gigante de Mountain View.
Ou seja… é complicado!
O Android ainda está no Google, mas em um lugar próprio?
A equipe de advogados do DOJ parece ter decidido que eles não vão exigir que o Google venda o Android também, o que pode ser visto como uma vitória para a gigante de Mountain View.
Perder o Chrome e todos os seus ativos de publicidade já é um enorme prejuízo para o Google. Agora, perder também o Android e a sua dominância global no mercado de smartphones seria uma tragédia sem precedentes.
No entanto, o DOJ quer propor que o Google separe o sistema operacional móvel Android do resto de seus produtos, como o mecanismo de pesquisa ou a loja Google Play.
Neste momento, todas essas plataformas estão integradas ao Android, e isso teria um efeito único: colocar o sistema operacional do Google em posição similar ao, por exemplo, HarmonyOS Next da Huawei.
O Android sem os serviços do Google se torna um sistema operacional limitado para a esmagadora maioria dos usuários que usam todos os dias o Gmail, o Google Mapas e o YouTube.
Como o Google poderia contornar esse cenário?
AOSP de um lado, Google apps e serviços do outro
O futuro do Android passaria por um cenário como o que agora é vivido com o AOSP (Android Open Source Project), que é a versão do sistema operacional que “qualquer um pode usar”, mas sem contar com os serviços do Google em suas entranhas.
A parte de código aberto do Android (AOSP) e os serviços e aplicativos do Google (YouTube, Maps, Gmail, Google Play Services) podem ser instalados separadamente. A diferença é que, do jeito que está agora, o usuário recebia tudo isso integrado.
Por outro lado, o próprio Google determinava (impondo, basicamente) que seus serviços e aplicativos devem estar em todos os smartphones Android dos seus parceiros comerciais, como parte de sua política de utilização de um software chancelado por ela.
Se o Android for desmembrado dos outros serviços do Google, os usuários teriam em seus smartphones uma versão básica do sistema operacional, com a possibilidade de instalar serviços e aplicativos de diferentes fabricantes.
Podem ser os serviços do Google, mas também de outros desenvolvedores e fabricantes como, por exemplo, a Huawei ou a Samsung.
Isso daria mais chances de competir com mecanismos de pesquisa de aplicativos de terceiros ou lojas, fomentando um mercado de livre concorrência e escolha para os usuários.
Pense em um cenário onde, por exemplo, você pode ter um smartphone Samsung com o Firefox como navegador, DuckDuckGo como mecanismo de pesquisa e F-Droid como uma loja de aplicativos.
Mas nada impede a instalação e uso do Gmail ou o YouTube sem problemas.