Quando tudo na internet era mato, o Google não existia. Era uma internet bem mais simples e complexa de se encontrar outros sites ou alguma informação relevante. Era preciso ser paciente, inteligente e até mesmo ter uma boa dose de sorte para encontrar algo na web do passado.
Para chegar ao Google e à internet que conhecemos hoje, um longo caminho foi construído e pavimentado pela criação da WWW como conhecemos. A tal rede mundial de computadores até existia antes disso, mas em outro formato que sequer era acessado pelo grande público.
Vale a pena dedicar algum tempo para contar de forma bem resumida como era a internet antes do Google dominar tudo. E é até irônico falar sobre isso em um momento em que o império da gigante de Mountain View pode cair por conta da força da mão da justiça dos EUA.
A criação da WWW e os primeiros motores de busca
Essa parte da história já foi contada por diversas vezes. Eu mesmo escrevi vários artigos sobre o tema. Por isso, vou resenhar de forma muito resumida.
Em 1990, Tim Berners-Lee desenvolveu a World Wide Web com o objetivo de conectar informações científicas entre universidades e instituições relacionadas. Esse foi o marco inicial da internet moderna, e ponto definitivo de transformação na forma em como acessamos os dados online.
Nos primeiros dias da internet, a busca por informações era feita através de listas manuais e diretórios temáticos como a Wide Web Virtual Library, criada pelo próprio Berners-Lee em 1991, que organizava links em categorias rudimentares.
Antes mesmo da web, algumas ferramentas apareceram para facilitar a localização de sites e identificação de arquivos, como o Archie (1990), que indexava arquivos em servidores FTP, e o Veronica (1991), que buscava documentos em servidores Gopher.
Essas soluções focavam em utilidades técnicas, refletindo uma inernet ainda embrionária e voltada a comunidades científicas e acadêmicas. Não era algo acessível para o grande público.
O crescimento da internet foi algo inevitável. Com isso, os primeiros motores de busca apareceram. E só então os usuários comuns começaram a ter o contato com a rede mundial de computadores da forma como conhecemos hoje.
Yahoo!, o rei dos diretórios
Fundado por Jerry Yang e David Filo em 1994, o Yahoo! utilizava um diretório hierárquico para categorizar informações, sendo um dos primeiros grandes portais de navegação na internet.
Foi essa estrutura que permitiu ao usuário médio encontrar informações online de forma mais acessível, e um dos segredos da enorme popularidade do site.
A curadoria manual dos sites pelos editores garantiu qualidade nas buscas, mas esse modelo se tornou insustentável com o aumento exponencial da web.
Aqui, já se identificou a necessidade de automatizar os processos. E é correto dizer que naquele momento se pensou em um algoritmo como solução.
Lycos, e a indexação em massa
Desenvolvido na Carnegie Mellon em 1994, o Lycos foi pioneiro na aplicação de algoritmos avançados para indexar grandes volumes de documentos.
Aqui, já temos a primeira resposta à teórica deficiência do Yahoo!, pois utilizou uma ferramenta que, no futuro, seria poderosa para a organização dos dados online.
O Lycos também adotou um modelo multifuncional com portais de entretenimento e informação, atraindo um público global, especialmente na Europa e Ásia.
Esse modelo de negócio foi repetido em todo o mundo. No Brasil, portais como Zaz (hoje, Terra) e Universo Online (hoje, UOL) surgiram apostando no mesmo formato.
Excite tentou, mas não conseguiu
Criado em 1995, o Excite também se antecipou aos algoritmos ao introduzir um sistema de recomendações com base nas preferências dos usuários.
Não era um sistema automatizado, mas era a base de um, pois tinha um critério estabelecido pela usabilidade orgânica.
Era um sistema inovador, mas não resistiu à competição acirrada com o Google (que viria depois) e outros motores emergentes.
AltaVista, e as inovações na busca
Lançado em 1995, o AltaVista foi pioneiro ao indexar o conteúdo completo das páginas web, e não apenas os títulos e as descrições dos sites. Dessa forma, os usuários poderiam fazer pesquisas com resultados mais precisos e relevantes.
O AltaVista também é o responsável por introduzir pesquisas booleanas e a possibilidade de buscar frases exatas, estabelecendo um novo padrão para os mecanismos de busca.
Todas as outras ferramentas que apareceram depois se beneficiaram das inovações do AltaVista, que mesmo sendo hoje um esquecido entre os serviços de busca na web, é uma das soluções mais influentes nos contextos históricos.
A ascensão do Google
Lançado em 1998 por Larry Page e Sergey Brin, o Google revolucionou a busca na internet com seu algoritmo Pagerank, que priorizava relevância e qualidade através de links cruzados.
Foi através do Pagerank que o Google conseguiu centralizar a navegação na web, consolidando um modelo que permanece até hoje. Foi uma revolução que ditou as regras nas buscas na internet.
O design minimalista do Google contrastava com as interfaces complexas e extremamente poluídas nos aspectos visuais de seus concorrentes, atraindo usuários pela facilidade de uso e simplicidade de proposta.
O Google não apenas facilitou o acesso à informação online, mas também alterou a forma como interagimos com a web. A dependência de algoritmos modernos reduziu a exploração ativa que caracterizava as buscas iniciais.
Com o tempo, o Google se tornou sinônimo de busca online, monopolizando o setor e expandindo seus serviços para além da pesquisa.
Muitos afirmam que essa dominância resultou em uma relação menos interativa com os conteúdos online, principalmente por conta da manipulação dos resultados exibidos nas buscas.
Algo que resultou no recente processo antitruste que o Google enfrenta neste momento nos EUA, por ser considerado um monopólio nos serviços de buscas e publicidade online.
Porém, é inegável que o Google mudou de forma definitiva a forma em como enxergamos a internet, marcando um ponto de inflexão nessa rede que, hoje, não vivemos sem acessá-la todos os dias.