Bill Gates tinha uma visão muito ambiciosa sobre as buscas na internet, mas nada que se comparasse à abordagem do Google, que já era uma gigante quando o cofundador da Microsoft se tocou que este era um segmento que seria muito lucrativo no produto.
Gates encarou o Google como uma ameaça direta no seu propósito de controlar a experiência dos usuários na internet. E foi só nisso que ele acertou na sua perspectiva em relação à gigante de Mountain View.
Em todo o resto, fracassou miseravelmente. E é sobre isso o que quero conversar com você hoje.
Por que o Google derrotou Bill Gates?
Bill Gates acreditava firmemente que o modelo de busca baseado em palavras-chave estava ultrapassado. Sua proposta era integrar as buscas aos produtos Microsoft já consolidados, como Windows e Office, criando uma experiência fluida onde os usuários poderiam pesquisar informações sem interromper seu fluxo de trabalho.
Imagine fazer uma busca sem precisar sair do documento Word que você está editando – essa era a revolução que Gates imaginava para o futuro da internet.
Não dá para dizer que Gates não tinha um fundo de razão nessa visão. É algo que o Word consegue fazer hoje com o Copilot. O problema é que era algo tão visionário, que não tinha aplicação prática na internet do passado.
Pensar que uma gigante como a Microsoft perdeu em alguma coisa no mundo da tecnologia é algo quase inimaginável. Mas… aconteceu.
O MSN Search (que posteriormente se tornaria o Bing) não chegou perto de fazer cócegas ao que o Google sempre ofereceu, onde o aspecto mais importante para Mountain View era ser simples na apresentação e muito preciso no algoritmo de resultados, entregando respostas relevantes de forma direta e sem complicações.
E Bill Gates jamais poderia imaginar que o mesmo Google iria também mexer nas suas gavetas, só para deixar a derrota da Microsoft ainda mais acachapante.
Google brincou de “O Império Contra-Ataca”
Em 2004, enquanto a Microsoft tentava invadir o mercado de buscas, o Google atacava o território dos PCs com estratégias certeiras.
Adquiriu o Picasa, deixando o gerenciamento de fotos algo simples e acessível para todo mundo. Tudo bem, o Google dominou o nicho até descontinuar o aplicativo no auge de sua popularidade para, depois, lançar o Google Fotos.
Enquanto isso, de forma sorrateira, entregou ao mundo o Google Desktop Search, que permitia aos usuários pesquisar arquivos locais com a mesma facilidade das buscas na web – exatamente o que Gates queria fazer, mas pelo lado inverso.
Ainda em 2004, o lançamento do Gmail representou um golpe devastador contra o Hotmail da Microsoft.
O serviço do Google era moderno, rápido e oferecia generosos 1GB de armazenamento gratuito, enquanto o Hotmail disponibilizava apenas 2MB inicialmente.
A Microsoft pouco poderia fazer em relação ao Gmail, e as respostas sempre foram muito tímidas. E teve mais uma derrota para Mountain View e sua turma em um segmento de comunicação online precioso (na época).
Inteligência artificial: mais uma derrota para Gates
Com os avanços da inteligência artificial, o panorama das buscas online se transformou radicalmente. Agora, as pesquisas compreendem semânticas e oferece respostas contextualizadas.
De forma até irônica, essa é mais uma visão que se aproximou de Gates, mas é o Google quem mais se beneficia disso hoje, pois a Microsoft também chegou atrasada neste aspecto.
O Bing tem um grande trunfo com a OpenAI (do ChatGPT) como parceira, mas ainda fica atrás do Google com o Gemini dentro do motor de buscas. Até o ChatGPT puro entrega respostas melhores, mais contextualizadas e personalizadas que o buscador com IA da Microsoft.
Hoje, a busca na internet é uma conversa contínua, onde você pode obter os melhores resultados de suas dúvidas da mesma forma que você faria com um professor em uma sala de aula.
A Microsoft aprendeu alguma coisa?
Gates antecipou o modelo de negócios das buscas na internet, mas não conseguiu entregar um produto que se alinhasse com essa visão.
Hoje, a inteligência artificial mudou o cenário das buscas online, entregando resultados que estão alinhados ao fluxo de interação dos usuários e com maior naturalidade.
O Bing continua tentando, mas não chega perto da relevância do Google com o Gemini.
A lição tende a ser algo mais para o agridoce do que para uma mudança mais profunda na estratégia de evolução do Bing, pelo menos por enquanto.
Via Fortune