Todos nós (sem exceção) precisamos entender algo de forma muito clara: a Tectoy do passado, aquela que sempre vai deixar ótimas lembranças nos brasileiros por oferecer os consoles da SEGA e brinquedos eletrônicos incríveis… não mais existe.
A Tectoy atual, que está tropeçando nas próprias pernas com o lançamento do Zeenix no Brasil, passa bem longe de ser aquela empresa que conquistou os brasileiros com o Master System e o Mega Drive.
Mesmo depois do controverso lançamento do Zeenix Lite, a Tectoy conseguiu deixar, de forma quase inacreditável, a situação do console portátil algo ainda pior (como se isso fosse possível… e sempre é).
Comunicação confusa
A Tectoy não teve o devido cuidado de se comunicar corretamente com o potencial cliente do Zeenix, e em alguns casos, subestimou a capacidade de raciocínio das pessoas.
E isso, lá de trás.
Dizer que o console era “um projeto nacional” quando, na verdade, é um produto “white label” (e não tem nada de errado nisso) foi um erro primário.
Na era da internet, qualquer pessoa descobre qualquer coisa em questão de segundos (desde que queira e procure nas fontes certas, obviamente).
A omissão da informação neste caso começou a minar a confiança dos interessados no Zeenix. E a Tectoy se encarregou de piorar isso ao anunciar o preço do produto.
Quem descobriu que o console era importado sabia que ele não custaria barato logo de cara. Porém, o marketing da Tectoy vendeu a falsa ilusão de que conseguiria fazer isso.
Talvez em um segundo momento até possa entregar um produto menos caro que agora. Mas não nessa primeira leva de um produto que não tem produção nacional.
E tudo consegue piorar ainda mais quando a Tectoy decide se explicar sobre a comunicação confusa que ela mesma fez.
Desculpas esfarrapadas
A entrevista que o responsável pela Tectoy (agora não tenho o nome dele) para o Flow Games na ocasião do lançamento do Zeenix Lite no Brasil é algo constrangedor de se assistir.
A comparação do Zeenix Lite com o PS5, onde ele afirma que não é possível tirar o console da Sony na mochila e jogar no metrô é simplesmente ridícula.
Ele disse o óbvio neste caso.
O problema é que o brasileiro médio também não vai fazer isso com o Zeenix Lite, pois ele é caro, grande e chamativo demais para o metrô de São Paulo.
Quem joga no metrô vai jogar com o smartphone. E todo mundo sabe disso.
A insinuação de que o Zeenix Lite é caro porque é homologado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) é até plausível, mas pouco válida para quem compra, por exemplo, o Steam Deck.
Boa parte dos gamers, principalmente aqueles que apostam nos consoles portáteis, não dão a mínima para a certificação da Anatel.
Porque estão acostumados a importar produtos do AliExpress, sem se preocupar com a garantia de fábrica do produto ou com a ausência de assistência técnica.
É uma questão de cultura do gamer brasileiro. Algo que a Tectoy parece ignorar.
E para completar esse mar de desculpas esfarrapadas, no lugar de fazer um vídeo institucional respondendo as dúvidas do grande público (algo que a Tectoy fez depois), o Pedro Caxa, head de comunicação da empresa, vai no seu canal pessoal nas plataformas digitais e responde a tudo de forma tão casual e despojada, que soou como algo pedante e desrespeitoso.
Eu até entendo o ar casual na comunicação corporativa. A Tectoy está tentando se comunicar com jovens adultos. O que não entendo é o amadorismo para lidar com a situação.
Mas a cereja do bolo veio nessa semana do CEO da Tectoy, o que pode custar caro para todo o projeto do Zeenix.
Algo muito pior do que um console portátil que prometeu ser barato e, na prática, é mais caro que todos os seus concorrentes.
Um CEO problemático
Valdeni Rodrigues, CEO da Tectoy, aparentemente se esqueceu que parte do seu público está nas redes sociais, e que nem mesmo o X (finado Twitter) é uma bolha que abriga apenas as pessoas que concordam com o que ele pensa.
O executivo publicou e compartilhou no X uma série de notícias falsas, discursos preconceituosos contra mulheres e minorias, falas políticas distorcidas e até mesmo ataques à China que – pasmem – é seu parceiro comercial no projeto do Zeenix.
E Valdeni fez tudo isso na semana de lançamento do Zeenix no Brasil.
O cara foi de notícias falsas ao filme “Ainda Estou Aqui” até misoginia escancarada.
Então…
Você pode falar o que quiser nas redes sociais (desde que sua fala não resulte em um crime, obviamente), e o problema aqui não é você apoiar uma determinada visão de mundo.
A questão é: você está preparado para as consequências?
A forma em como manifestamos o nosso pensamento, principalmente quando partimos para a verborragia e distorção da realidade para respaldar nossos pontos fala muito mais sobre nós do que as próprias palavras que estamos falando ou escrevendo.
É seu direito não concordar com o mundo do jeito que ele se apresenta diante dos seus olhos. O que você não pode, de forma alguma, é mentir e diminuir quem pensa diferente de você a nada.
Pior: tentar destruir aqueles que não podem mudar aquilo que você odeia nelas é um ato covarde, em níveis absurdos.
Resultado: Valdeni Rodrigues deletou a sua conta no X às 21h do dia 27 de novembro de 2024.
Sentiu.
O preço (que é o que realmente importa)
Deixando todas as polêmicas de lado, resta o preço do Zeenix Lite, que é o que importa no final das contas.
Lembrando que o valor de R$ 2.699 é PROMOCIONAL. A Tectoy fez questão de reforçar que este é o valor de LOTE DE LANÇAMENTO, e não de PRÉ-VENDA, como deu a entender.
Ou seja, quando esse lote esgotar, o valor do produto sobe para R$ 3.299. Ou não: quem sabe ele não começa a ser montado no Brasil, o que (em teoria) resultaria em uma redução de valores.
Ou até mesmo a Tectoy decide subsidiar o produto, ou reduzir suas especificações técnicas para deixá-lo mais acessível. A empresa tem algumas possibilidades para ainda salvar o produto nos aspectos comerciais.
Fato é que a missão para salvar o Zeenix já começa bem complexa. Não precisou ir muito longe para ilustrar o tamanho do buraco que a Tectoy enfiou esse console no Brasil.
Um dos comentários publicados no vídeo de um dos cortes da constrangedora entrevista da Tectoy ao Flow Games listou de forma superficial os preços dos concorrentes do Zeenix.
Tá, eu sei que é conta de padaria. Mas vale a pena para nosso exercício comparativo:
- Zeenix Lite (R$ 2.699)
- Nintendo Switch Lite (R$ 1.350)
- Nitendo Switch OLED (R$ 2.080)
- Xbox Series S (R$ 2.600)
- PlayStation 5 (R$ 2.900)
- Ayn Odin 2 (R$ 2.800,00) – Handheld mais poderoso que o Zeenix
Eu realmente quero acreditar que a Tectoy se esforçou para não colocar o Zeenix na situação que ele está. De verdade. Não posso crer que uma empresa brasileira erra de propósito.
Mesmo com um CEO com códigos morais e éticos altamente questionáveis e de gosto duvidoso.
Entendo que a situação do dólar (que disparou desde a apresentação do Zeenix) complicou (e muito) a vida da Tectoy, e que nenhuma empresa que decide importar um produto para lançar no Brasil têm vida fácil com a política fiscal do atual governo.
Mas não dá para usar tudo isso como justificativa para o assombroso amadorismo da Tectoy para gerenciar essa situação.
Já estava ruim para o Zeenix. Só piorou nos últimos dias.
Será que o poço da Tectoy tem fundo?