A Apple não tem a intenção de criar o seu próprio motor de busca. E muitos podem estranhar essa falta de pretensão da gigante de Cupertino em competir em um espaço dominado pela gigante de Mountain View.
O que sabemos neste momento é que a Apple não vê a necessidade de investir em um projeto dessa magnitude, uma vez que o Google já é o motor de busca dominante no mercado.
Mas o que muitos não sabem é que essa parceria é benéfica para as duas empresas. Afinal de contas, estamos falando de negócios. E se uma união de duas gigantes pode resultar em muito dinheiro, por que não permanecer do jeito que está?
Neste artigo, compartilho cinco motivos que explicam por que a Apple não quer competir com o Google no segmento de buscas na web.
Ela ganha muito dinheiro com o Google
O Google paga à Apple uma gorda quantia de dinheiro para ser o motor de busca padrão no Safari. E quem não gosta de dinheiro, não é mesmo?
Embora o valor exato não seja público, é estimado que o Google pague à Apple entre 18 e 20 bilhões de dólares por ano, só para manter a sua ferramenta de buscas como padrão nos dispositivos da empresa da maçã mordida.
Este valor é uma parte significativa da receita da Apple, e é um dos principais motivos pelos quais a empresa não tem interesse em criar o seu próprio motor de busca.
Para o Google, este acordo é crucial, pois garante que os seus serviços de busca sejam utilizados por milhões de utilizadores de iPhone e iPad em todo o mundo, aumentando assim o seu alcance e domínio no mercado de publicidade online.
O acordo mantém as duas empresas independentes
Esse é um dos acordos mais importantes do setor de tecnologia, e em todos os tempos. Ele ilustra a interdependência entre as duas empresas, que são simultaneamente rivais e parceiras.
A Apple precisa do Google para fornecer um serviço de busca de alta qualidade aos seus usuários, enquanto o Google precisa da Apple para acessar à sua enorme base de utilizadores.
O acordo também mostra como o mercado de buscas na internet ainda é importante e lucrativo dentro da indústria de tecnologia. E foi assim por pelo menos duas décadas.
Tudo pode mudar a partir de agora, com a chegada da inteligência artificial. Mas até (e se) isso acontecer, a dupla Apple e Google já ganhou muito dinheiro com a parceria.
A Apple não quer repetir os erros do passado
Muitos de vocês não sabem ou não se lembram, mas a Apple já tentou criar o seu próprio motor de busca no passado, mas sem sucesso.
O projeto, conhecido como “Pegasus”, foi abandonado em 2015, após a empresa ter concluído que não seria capaz de competir com o Google dentro desse segmento.
A complexidade e o custo de desenvolvimento de um motor de busca que chegasse aos pés de tudo o que a gigante de Mountain View construiu seriam absurdos ou praticamente inatingíveis.
Por mais que a Apple já fosse uma empresa bilionária no meio da década passada, os investimentos em infraestrutura, talento especializado e inteligência artificial seriam massivos.
E o retorno não era garantido.
Logo, o fracasso do projeto “Pegasus” reforçou a decisão da Apple de continuar a parceria com o Google em vez de tentar criar um concorrente.
A Apple pode focar no que realmente importa
Esse motivo é derivado do item anterior.
Mesmo sendo uma empresa com várias vertentes e soluções tecnológicas, a Apple tem em seu DNA a ideia de só investir tempo e recursos nos produtos e serviços que podem entregar uma experiência de uso dentro dos seus padrões.
Não ter que destinar recursos para um eventual buscador na web, a empresa pode investir no desenvolvimento de seus próprios processadores, no software para seus produtos e em ferramentas de inteligência artificial.
A Apple não perdeu nada em não ter o seu buscador, e seus usuários ganharam muito ao longo dos últimos 10 anos.
O acordo fortalece a dominância das duas empresas
Apple e Google se beneficiam dessa parceria também na relevância das duas marcas no setor de tecnologia como um todo.
Como a Apple tem o buscador do Google como padrão, garante aos usuários a melhor experiência possível nas buscas online.
Por outro lado, o Google reforça a sua dominância no segmento de buscas, eliminando alternativas viáveis para os usuários.
Embora existam outros motores de busca, como o Bing da Microsoft e o DuckDuckGo, nenhum deles tem a mesma escala, alcance ou recursos que o Google.
E com o Google Search presente em boa parte dos dispositivos móveis do planeta, fica muito difícil para qualquer concorrente competir com eke.
Além disso, o Google investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento para melhorar os seus algoritmos de busca e oferecer resultados cada vez mais precisos e relevantes, tornando ainda mais difícil para outros competirem.
É uma parceria poderosa demais. Que pode acabar, pela força dos tribunais.
Uma parceria ameaçada?
O acordo entre a Apple e o Google está, neste momento, sob escrutínio regulatório. As autoridades antitruste nos Estados Unidos e na Europa estão a investigar se o acordo viola as leis de concorrência.
Existe a preocupação de que o acordo possa prejudicar os consumidores ao reduzir a concorrência no mercado de busca. Além disso, a natureza exclusiva do acordo pode dificultar a entrada de novos concorrentes no mercado, reforçando a posição dominante do Google e limitando a inovação no setor.
Ninguém sabe como será o futuro dessa parceria.
Se as autoridades antitruste decidirem que o acordo viola as leis de concorrência, a Apple poderá ser forçada a renegociar o acordo ou até mesmo a criar o seu próprio motor de busca, algo que acho difícil de acontecer.
O mais provável é que o acordo seja mantido, com algumas modificações para atender às preocupações regulatórias. A interdependência entre as duas empresas e os benefícios mútuos do acordo são fatores que provavelmente pesarão na decisão das autoridades regulatórias.