O mundo está muito chato. E os designs de smartphones ficaram monótonos e antiquados.
Você lembra da época em que cada celular parecia ter saído de um laboratório maluco, com propostas irreverentes e designs ousados?
Pois é.
Teve um tempo em que as fabricantes estavam claramente se divertindo (ou surtando) ao criar designs que hoje pareceriam delírios de uma IA dopada.
Mas aí o iPhone chegou.
E acabou com a festa.
O primeiro iPhone, lançado em 2007, deu início a uma nova era de sobriedade: tela retangular, sem teclado físico, com design elegante e… chato.
Mas foi com o iPhone X, em 2017, que a indústria finalmente desistiu de ser diferente e decidiu se uniformizar de vez.
O tal do entalhe (ou notch) virou padrão (infelizmente) e a partir daí, todos os celulares passaram a parecer irmãos gêmeos separados no berçário da Foxconn.
O festival de invencionices
Mas antes desse apocalipse estético, o mundo dos celulares era puro carnaval.
A Nokia, por exemplo, parecia um reality show de design experimental: celular que parecia taco de hóquei, celular com flip lateral, com tela giratória, e até com luzinha que piscava aleatoriamente.
E não era só a Nokia: teve celular que se transformava em filmadora, outros que se abriam em três partes… enfim, diversão garantida.
Quando o iPhone X apareceu com seu entalhe esquisito, os concorrentes tentaram inovar para não parecerem apenas copiões. Aí começou a era da tentativa desesperada de esconder a câmera frontal — como se fosse uma verruga digital.
A OPPO, ainda desconhecida por aqui, criou o N1 com uma câmera giratória (que virava pra frente e pra trás).
A Xiaomi meteu a câmera no queixo do celular (Mi Mix), criando a selfie mais desconfortável da história.
A Honor furou a tela (View 20), inaugurando o que chamaram de “piercing de tela”.
E teve até a gloriosa era das câmeras pop-up: o Vivo Nex, o POCO F2 Pro, o Realme X, o OnePlus 7 Pro — parecia que todo mundo queria fazer o celular virar uma lanterna retrátil.
O Oppo Find X tentou ser o James Bond dos celulares, escondendo todas as câmeras num mecanismo deslizante. Elegante, mas absolutamente impraticável.
Já o Mi Mix 3 foi mais sensato: só a câmera frontal era deslizante, o que evitava destruir o mecanismo toda vez que você abrisse o app de câmera.
Ainda assim, qualquer grão de poeira virava inimigo mortal desses celulares com partes móveis.
O LG Wing então… bom, era um Transformer.
Duas telas, uma que girava pra formar um T. Porque aparentemente alguém em uma reunião disse “e se…”.
O resultado era divertido, mas ninguém entendeu o propósito real.
A Asus tentou um truque com o Zenfone 6: duas câmeras que giravam para frente com um toque mecânico.
Prático? Nem tanto.
Diferente? Com certeza.
A Samsung, no seu auge criativo, misturou câmera giratória com mecanismo deslizante no Galaxy A80. Resultado: um espetáculo de engenharia… que ninguém quis.
Aí apareceu a Nubia, que olhou para tudo isso e disse:
“E se a gente colocasse uma segunda tela nas costas do celular?”.
E assim surgiu o Nubia X — tela frontal limpa, sem câmeras visíveis, e a traseira que virava uma espécie de espelho mágico pra selfies.
Não contente, a marca lançou o Nubia Z20, com duas telas funcionais e duas leitoras de digitais.
Um exagero? Um espetáculo?
Os dois.
O tédio venceu
Mas nada disso vingou.
As partes móveis eram frágeis, não resistiam à água e aumentavam os custos. E a era das selfies, TikToks e vídeos frontais pedia praticidade — não mágica.
A solução mais óbvia (e entediante) acabou vencendo: um simples furinho na tela. Discreto, funcional, e completamente sem graça.
Até a Apple, sempre atrasada, mas influente, trocou o notch pela tal “Ilha Dinâmica”, provando que basta ela mexer um pixel e o mundo segue.
Hoje, todo celular parece igual.
Olhe para a frente de qualquer smartphone e tente adivinhar a marca. Boa sorte. O design virou um enorme Ctrl+C, Ctrl+V com um furo centralizado.
Triste, porém, prático.
A ZTE, com sua linha Nubia, é uma das poucas que ainda insiste na tal câmera sob a tela — um sonho antigo da indústria.
O Nubia Z70 Ultra tenta esconder a câmera por completo atrás da tela.
Funciona? Mais ou menos.
As fotos saem com cara de que você sujou a lente de maionese. Mas com um toque de IA, até engana.
Resumo da ópera: a indústria tentou, falhou e cansou.
Voltamos para o ponto de partida, mas sem o charme dos celulares esquisitos. Agora é tudo minimalista, simétrico e… zzzz.
Quem sabe um dia a criatividade volta. Até lá, só nos resta lembrar com carinho dos tempos em que cada celular era uma surpresa — boa ou ruim, mas nunca previsível.