Bill Gates, que por décadas figurou entre as 10 pessoas mais ricas do mundo, alterou (e muito) sua configuração financeira, de acordo com a Forbes. Sua estratégia deliberada e de longo prazo foi doar 99% de sua fortuna, abandonando a tradição de deixar grandes fortunas para seus filhos.
Gates afirma que a decisão foi enraizada em valores pessoais e tradições familiares, mas não é só isso. Além da reflexão sobre a real necessidade de herança, o cofundador da Microsoft promove o bem coletivo e, ao mesmo tempo, o bem para si mesmo.
Ou melhor, para o futuro dos herdeiros dos 1% restantes da fortuna.
Um plano para driblar o impacto de US$ 100 bilhões
Aqui, entra em jogo a Fundação Bill e Melinda Gates, que recebeu nada menos que US$ 100 bilhões em doações para diversos projetos filantrópicos que foram realizados ao redor do mundo.
Só Gates já doou US$ 60 bilhões. E sua influência convenceu que outros bilionários como Warren Buffett investissem uma boa grana na instituição.
É claro que destinar boa parte de suas riquezas em ações de responsabilidade social é algo extremamente positivo. Por outro lado, evita que Gates, Buffett e outros envolvidos paguem violentas quantias de impostos pelas fortunas acumuladas.
Em entrevista à BBC, Bill Gates revelou sua intenção de não deixar a totalidade de sua fortuna como herança para seus filhos, optando por repassar apenas uma pequena porcentagem de seus bens.
Mesmo que 1% de seus aproximadamente US$ 107 bilhões represente uma quantia que, em termos absolutos, é extremamente alta, a escolha de reduzir a porcentagem não só evita a perpetuação de grandes fortunas sem contrapartida social, mas evita que os filhos de Gates tenham que receber a visita dos fiscais do Imposto de Renda todos os anos.
Ou melhor: ainda vão ser cobrados pelos impostos, pois a herança continua a ser bilionária. Mas a fatia tributária segue sendo muito menor do que poderia ser.
Pelo bem ou pelo mal, Bill Gates está ajudando a reduzir a desigualdade social e tornando o mundo melhor. Mas isso não quer dizer que ele não está ganhando nada com essa atitude.
Uma tendência entre os bilionários
Bill Gates convenceu Warren Buffet a doar a maior parte de sua fortuna, e outros bilionários estão seguindo o mesmo exemplo.
Mark Zuckerberg, Mick Jagger, Lauren Powell Jobs e Sting já afirmaram que vão fazer a mesma coisa, com o mesmo pretexto: utilizar a riqueza como ferramenta para o bem social.
É claro que o debate sobre o repensar o papel da fortuna na sociedade e a meritocracia herdada pelo esforço dos pais (o que coloca os filhos automaticamente em uma posição de dominância, perpetuando o poder entre poucos grupos) é mais do que válido e pertinente.
Porém, é quando olhamos para os números é que entendemos por que esse movimento está acontecendo.
Até o quarto trimestre de 2023, a fundação Bill e Melinda Gates anunciou ter doado US$ 77,6 bilhões, administrando ainda um capital fiduciário de US$ 75,2 bilhões.
Dos valores doados, uma parte significativa—US$ 59,3 bilhões—proveniente diretamente dos cofres de Gates, é complementada por contribuições de terceiros, como a de Warren Buffett, que desde 2006 somou US$ 39,3 bilhões.
A fortuna de Bill Gates sofreu uma redução de aproximadamente US$ 16 bilhões no último ano fiscal por causa das doações. Porém, são doações para ele mesmo pois, afinal de contas, “Fundação Bill e Melinda Gates”.
Não podemos afirmar que as intenções do cofundador da Microsoft não são genuínas. Os pais de Gates sempre adotaram práticas solidárias, e sua mãe constantemente afirmava que “a riqueza carrega a responsabilidade de doá-la”.
Logo, não é um absurdo pensar que Bill Gates é sim um comunista. Ops, quero dizer… que ele realmente acredita que tem a responsabilidade social de dividir suas riquezas com o mundo, mesmo se beneficiando dessa atitude.
Bill conseguiu o impossível: convencer capitalistas a doar fortunas. A The Giving Pledge, criada em parceria com Buffett e inspirado pela filosofia de Chuck Feeney, é a maior prova disso.
Nessa iniciativa, os bilionários envolvidos foram convencidos a doar pelo menso 50% de suas fortunas. E entre os signatários estão nomes como Mark Zuckerberg, Elon Musk, MacKenzie Scott e Sam Altman.
Podemos sim questionar as práticas de Bill Gates nos aspectos filantrópicos. Mas não podemos dizer que, certo ou errado, ele está contribuindo para um mundo melhor.
Com o seu dinheiro. E com o dinheiro de pessoas que jamais pensaram em dar dinheiro para causas que valem a pena.