No final das contas, gastamos várias palavras que se perderam no vento, já que o tempo mostrou que muitos de nós (eu, inclusive) estávamos completamente errados sobre a Apple.
Não foram poucas as vezes que eu mesmo afirmei que a Apple estava em crise, que o iPhone não é mais o que era, que a empresa perdeu a inovação, e que um Mac Pro com design de ralador de queijo e rodinhas caríssimas eram um erro.
Tim Cook estava certo em tudo. Absolutamente tudo.
Nem mesmo a queda nas vendas do iPhone, nem a crise dos Estados Unidos com a China, e nem mesmo uma crise sanitária global sem precedentes foram capazes de parar a Apple.
Nada é capaz de parar a Apple. Principalmente na Bolsa de Valores, onde não para de crescer e, nesse momento, vale nada menos que US$ 2 trilhões. Com isso, ela deixa para trás o rótulo de empresa mais rica do mundo, e vai para um novo patamar: é a nona economia do planeta.
Superando o PIB do Brasil em 2019, é claro.
US$ 1 trilhão a mais em apenas dois anos
Mais fascinante que a marca numérica é o tempo muito reduzido que a Apple gastou para chegar nesses números, com lucros constantes a cada trimestre, inclusive durante os meses de confinamento.
A Apple foi a primeira empresa do mundo a valer US$ 1 trilhão, algo que aconteceu em 2018. Depois, Microsoft e Alphabet (Google) repetiram esses números. Porém, só a gigante de Cupertino conseguiu duplicar os números em apenas dois anos.
Por isso, é melhor colocar esse poderio econômico da Apple em um espectro mais ajustado para melhor dimensionar os efeitos práticos desses números. Que esta é a maior empresa do mundo, isso está bem óbvio. Agora, comparar essa empresa com países é o comparativo mais adequado para que todos entendam bem o que está em questão aqui.
Se a Apple fosse um país, todo o seu PIB a posicionaria como a nona economia do mundo, superando o Brasil e o seu PIB de US$ 1.9 trilhão em 2019 e logo abaixo da Itália, com US$ 2.1 trilhões. E, considerando tudo o que aconteceu no mundo em 2020, tanto Brasil como Itália terão fortes quedas no PIB em 2020, algo que a Apple não deve ter.
Pois é… adiantou a gente criticar a Apple?
Nos últimos anos, muito foi dito sobre as quedas nas vendas do iPhone e iPad, sobre a ausência de inovação da Apple e a forma como a crise econômica afetava as vendas dos seus caros produtos.
Porém, é indiscutível que Tim Cook movimentou as peças do jogo com perfeição. A nova Apple não gira mais em torno do iPhone, e ganha muito dinheiro com os wearables (Apple Watch, AirPods, alto-falantes inteligentes) e os serviços (Apple Music, Apple TV+, Apple Arcade, etc). Sem falar que a empresa está investindo em novos segmentos de mercado, como é o caso dos carros autônomos.
As ações da Apple em 2020 subiram nada menos que 60% e, em pleno período de confinamento (entre os meses de abril e junho), os lucros da empresa cresceram 12% em relação ao registrado no ano anterior (que não sofreu os efeitos de uma crise sanitária global).
O que aprendemos aqui?
Que nós somos burros e precipitados ao afirmar que a Apple entraria em crise com suas estratégias. Bom, quero dizer, não quer dizer que quem criticava a política de preços absurdos para iPhones estava totalmente errado. Mesmo porque Tim Cook mudou os rumos da empresa, que se recuperou das patinadas recentes.
Mesmo assim… é de se desconfiar que a Apple tem algum pacto com forças ocultas e/ou desconhecidas, ou que a empresa se tornou totalmente imune às variáveis da economia global e do mercado de tecnologia. Será que a gigante de Cupertino tem a cura para o vírus que nesse momento está mantendo meio mundo em casa?
Vou repetir: aí, Apple… tem como comprar o Brasil?
Via New York Times