O setor de cinema segue sangrando, encontrando enormes dificuldades para retomar aos patamares de receita anteriores à pandemia (se é que isso vai acontecer um dia).
Em 2024, a bilheteria global somou US$ 30,5 bilhões, uma queda de mais de 10% em comparação com 2023 e de quase 30% em relação ao período pré-pandêmico.
Nos Estados Unidos, a bilheteria nacional caiu para cerca de US$ 800 milhões, bem abaixo da média anual de US$ 1,3 bilhão registrada antes da pandemia.
Fatores como a popularização dos serviços de streaming, os atrasos nas produções causados pelas greves de 2023 e a dependência de ingressos mais caros dificultam a recuperação do setor.
No meio desse caos, a Disney venceu. E essa é uma péssima notícia para quem gosta de produções originais.
A força das franquias e sequências nas bilheterias
Os grandes sucessos de 2024 reforçaram a preferência do público por franquias consolidadas, já que remakes, reboots e sequências impulsionaram as maiores bilheterias do ano.
Nove dos dez filmes mais rentáveis do ano foram sequências ou pertenciam a franquias estabelecidas, com a Disney emplacando três grandes hits: “Divertida Mente 2”, “Deadpool & Wolverine” e “Moana 2”, com os três filmes ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão em arrecadação global.
Além disso, sequências de filmes como é o caso de “Duna: Part 2” superaram a bilheteria dos seus antecessores com sobras, reforçando que o momento é de apostar nas histórias que todo mundo já conhece para minimizar os riscos financeiros.
Nem é preciso pensar muito para concluir que os grandes prejudicados em 2024 foram as histórias originais, que foram praticamente esmagados nas bilheterias.
O caso mais emblemático é o de “O Dublê”, protagonizado por Ryan Gosling e Emily Blunt. Nem mesmo a presença dessa dupla e todo o trabalho de marketing pesado por parte do estúdio impediram que o filme fosse um fracasso de bilheteria, ao arrecadar apenas US$ 190 milhões globalmente, uma vez que o seu orçamento foi de US$ 110 milhões.
Filmes originais não conseguem competir com o apelo de marcas estabelecidas, e a redução de investimentos em obras de médio orçamento eliminou uma antiga “classe média” de filmes que garantiam estabilidade ao setor.
O desaparecimento da diversidade do sucesso nos cinemas
A concentração do sucesso em blockbusters e franquias populares tornou o cenário cinematográfico menos diverso, em todos os sentidos.
Filmes como “Coringa: Delírio a Dois” e “Borderlands” não alcançaram suas metas de bilheteria, ampliando a distância entre produções de grande escala e aquelas consideradas “arriscadas”.
Se bem que, coincidência ou não, os dois filmes mencionados no parágrafo anterior não foram bem recebidos pela crítica e por parte do público, e isso também atrapalhou na visibilidade dessas obras.
O que também significa que existe uma tendência do público em não se sentir motivado a sequer sair de casa para ver filmes que são considerados “arriscados” inclusive na qualidade final entregue nas telas.
De qualquer forma, a tendência de investimentos nas grandes produções sempre vai prejudicar a inovação criativa, reduzindo a variedade de opções de filmes nas salas.
Para quem busca novas histórias ou um cenário que vai além do “mais do mesmo” nas histórias e seus formatos, o que vemos hoje em Hollywood é um autêntico pesadelo.
E com os reboots, remakes e continuações sendo os campeões de bilheteria de 2024, o futuro tende a ser desanimador para quem não aguenta mais ver as mesmas histórias na tea.
Há uma luz no fim do túnel?
O domínio das franquias foi algo evidente em 2024, e os grandes estúdios tendem a seguir apostando nesse método. A Disney (principalmente) deixa isso muito claro nos seus projetos futuros.
Por outro lado, 2024 também deixou sinais de que outros gêneros podem ganhar espaço no futuro, com um potencial para se diversificar com sucessos fora do universo de super-heróis e apostas bem-sucedidas em gêneros alternativos.
A principal aposta nesse sentido está nos filmes de terror, que cada vez mais chamam a atenção do grande público. Isso já vinha em uma crescente nos últimos anos com obras como “Corra”, “Vidro”, “Fragmentado” e “Pearl”.
Agora, se “A Substância”, protagonizado por Demi Moore, for um filme bem-sucedido na temporada de premiações, podemos esperar por um maior volume de lançamentos dentro desse gênero, pois uma porta será oficialmente aberta.
Analistas destacam a importância de aumentar o volume de estreias e criar um senso de urgência entre os espectadores, uma estratégia que ajudou a revitalizar o interesse por lançamentos recentes.
Os cinemas e estúdios começam a entender que a proximidade de grandes estreias pode beneficiar toda a indústria, e esse é o tipo de experiência que faz falta para o grande público.
A comodidade do streaming e o excesso de estreias e alternativas retirou do cinéfilo médio a necessidade de sair correndo para ver um filme que certamente estará disponível em alguma plataforma daqui a 30 dias.
A criação de um “medo de perder algo” e a sensação de “filme evento” precisam voltar para atrair o público, especialmente em tempos de competição direta com o conforto das plataformas de streaming.
Isso… e um serviço melhor nas salas, com preços mais realistas. É inconcebível um balde de pipoca com refrigerante custar R$ 50. E as redes de cinema não se tocam disso.
Via Variety