O anúncio da descontinuação da VPN do Microsoft Defender foi uma notícia inesperada para os assinantes do Microsoft 365, inclusive para nós, brasileiros, que aguardavam a ampliação deste recurso para o nosso mercado. Algo que não deu tempo de acontecer.
Somos azarados? Muito provavelmente sim.
Enquanto muitos de nós depositaram esperanças na chegada do serviço no país, a decisão da Microsoft de encerrar a funcionalidade evidencia a baixa adesão ao recurso, o que, por sua vez, contribuiu para o fim das expectativas que se formavam em torno de uma navegação mais segura e privada.
Ou seja, mesmo adotando a estratégia de integrar funcionalidades que, em teoria, eram úteis ao ecossistema Microsoft, nem sempre o público responde conforme o planejado, forçando a empresa a repensar investimentos e estratégias em segurança digital.
E como consequência disso, uma navegação menos segura na internet. E você que pague por um VPN particular.
Neste artigo, apresento cinco motivos que justificam a exclusão do recurso de VPN do Microsoft 365.
Um contexto global confuso para o recurso
A inclusão da VPN no pacote Microsoft Defender desde agosto de 2024 foi uma tentativa estratégica de consolidar o 365 como um conjunto de ferramentas que também contava com uma solução de segurança mais abrangente para PCs, Macs e dispositivos móveis.
O principal objetivo aqui era oferecer aos usuários um antivírus robusto, serviços de backup e um acesso básico à VPN para proteger dados e tráfego online.
Tudo muito interessante e funcional, se não fosse por um detalhe: a completa bagunça que a Microsoft fez na hora de integrar essa funcionalidade nos diferentes mercados globais.
A oferta inicial estava restrita a mercados específicos, como Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido. O Brasil e outros mercados emergentes foram simplesmente excluídos dessa proposta desde o começo.
O que não faz muito sentido. Brasil e Índia são dois mercados enormes, com um número de usuários de computadores considerável. Seja porque são engenheiros de software ou do time do suporte técnico de uma Amazon qualquer da vida, seja porque são blogueiros de tecnologia que tentam sobreviver de migalhas pela publicidade na internet.
A escolha mostra como a Microsoft direcionou recursos para regiões com maior adesão e demanda, quando precisava expandir no globo. Ainda mais considerando o cenário global, onde a segurança digital era uma das prioridades da grande maioria dos usuários.
Se a oferta do VPN no Microsoft 365 fosse global desde o começo, ou se incluísse um número maior de países logo no ato do seu lançamento, quem sabe a proposta tinha outra sorte.
Porém, a Microsoft se mostrou incompetente desde o primeiro momento.
As limitações técnicas e as restrições
A análise detalhada do serviço revela que a VPN integrada no Microsoft 365 era sim funcional, mas apresentava limitações que comprometiam sua atratividade junto aos usuários. E é claro que aqueles que vão pagar querem ter a solução mais completa possível porque, oras bolas, estão pagando por isso.
Com um limite de 50 GB mensais por usuário, a ferramenta impunha restrições que, associadas à impossibilidade de selecionar servidores de diferentes países, dificultavam a personalização e a eficácia do recurso para quem buscava uma experiência de navegação robusta.
Na prática, o VPN do Microsoft 365 ficava muito atrás de propostas dedicadas e, obviamente, mais completas. E… sim, eu sei que a gigante de Redmond deixou claro que este era um VPN básico.
Mas… vai explicar isso para quem está pagando…
Além disso, a exclusão do tráfego que vem de serviços populares de streaming e comunicação, como Netflix, YouTube, Spotify, Instagram e WhatsApp, restringia ainda mais o potencial de utilização.
Se não dava para usar essa VPN para ver o catálogo do Disney+ dos Estados Unidos, do que diabos servia essa ferramenta?
É óbvio que os assinantes se viram obrigados a optar por serviços tradicionais de VPN para suprir todas as necessidades que uma ferramenta como essa tenta cobrir.
As promessas não cumpridas
A expectativa em torno da expansão do serviço para o Brasil, onde uma parcela significativa dos usuários do Microsoft 365 aguardava a implementação da VPN, sofreu um revés com a confirmação de que o recurso não será disponibilizado.
E não foi só aqui. Em vários mercados globais, a decepção com essa decisão da Microsoft foi enorme, pois muitos esperavam em fazer uma economia em pelo menos um dos serviços online, mesmo que fosse mínima.
A estratégia de expansão, que previa incluir o nosso país entre os destinos beneficiados, foi abruptamente cancelada, o que gerou um sentimento de frustração e desapontamento para aqueles que depositavam confiança na promessa de uma camada adicional de segurança digital.
Aqui, muitos vão entender que “é a Microsoft sendo a Microsoft”. A explicação de que essa é uma decisão empresarial pensando em um mercado globalizado que nem sempre olha para as demandas regionais tende a não mais colar entre os usuários.
Mesmo porque quem tem Xbox no Brasil passou pelo mesmo desgosto recentemente, quando o nosso mercado passou a ser “mais um” dentro da divisão latino-americana do segmento de videogames da gigante de Redmond.
No final das contas, além do desinteresse da Microsoft, faltou competência e até mesmo robustez técnica e financeira para levar o VPN do 365 além do que foi. O que soa como algo (quase) inacreditável para uma empresa que possui recursos (quase) ilimitados.
A reavaliação de investimentos como desculpa
A Microsoft se limitou a dar uma desculpa genérica em sua página de ajuda para justificar a decisão, enfatizando a necessidade de investir em novas áreas que se alinhem melhor às necessidades dos clientes.
Essa explicação levanta questionamentos sobre o comprometimento com a segurança digital oferecida aos assinantes do Microsoft 365. A remoção do recurso de VPN parece ser uma resposta à análise de eficácia e utilização do recurso, indicando que a adesão ao serviço não atingiu as metas estabelecidas pela companhia.
Sim, isso qualquer pessoa que chegou até aqui já sabe.
Por outro lado, o que não nos leva a pensar que o recurso simplesmente não era bom o suficiente para permanecer no mercado? Quero dizer, diante do desinteresse do público, o feedback negativo pela ineficiência do VPN também pode explicar o seu desaparecimento.
Dessa forma, a decisão pode ser vista como parte de um realinhamento estratégico e, ao mesmo tempo, um duro choque de realidade. A empresa vai (obviamente) priorizar investimentos que prometem maior retorno e relevância para um público mais engajado, ajustando seu portfólio de soluções de acordo com o comportamento dos usuários.
Ou seja… vai parar de oferecer produtos ruins ou incompletos, que podem queimar o filme da empresa junto ao consumidor final.
A aposta na segurança digital de qualidade
O encerramento do serviço de VPN é sim uma perda para os usuários que buscavam uma solução intermediária de segurança sem o compromisso de contratar um serviço dedicado. Mas… no fundo, bem lá no fundo mesmo… será que estamos realmente perdendo alguma coisa aqui?
Desenvolver uma ferramenta de segurança que combina simplicidade, eficiência, abrangência, qualidade e integração com uma plataforma já consolidada passa bem longe de ser uma das tarefas mais fáceis do mundo.
Até mesmo para uma Microsoft.
Então, entre ter um sistema de rede privada que não permite o acesso ao catálogo da Netflix de outros países e investir em um Microsoft Defender mais seguro, é melhor garantir a segunda escolha.
Os seus dados salvos com segurança na nuvem e no seu computador certamente vão agradecer aos esforços de Satya Nadella e sua turma.
A decisão da Microsoft pode representar o início de uma nova fase em que a segurança digital seja repensada com base em soluções mais adaptáveis às reais demandas dos clientes, considerando desde as limitações técnicas até o comportamento de uso que varia de região para região.
Com alguma sorte, todos nós vamos sair ganhando com esse movimento no futuro, apesar da aparente perda de presente.
Ou melhor… no caso do brasileiro médio, não podemos sentir falta daquilo que nunca foi nosso.
Reavaliar as estratégias de investimentos em tecnologia é uma necessidade constante. E a Microsoft decidiu rever a rota antes que o GPS financeiro comece a ficar maluco.
E aí, nem dava para usar a VPN da Microsoft com um GPS para direcionar para os lucros. A rota para os prejuízos estava mais do que traçada.
E por tudo isso, o VPN do Microsoft 365 foi de arrasta para cima.
Via Windows Latest